Aqui... Onde a terra se acaba e o mar começa.
Aqui... Onde os sonhos ganham vida e se veem gravados, para todo o sempre, na memória deste mar.
Aqui... Onde sorrisos apaixonados se tornam no elixir que cura as feridas desta terra.
Aqui... Onde se exorcizam fantasmas do passado e se abrem corações ao amor.
Aqui... Onde tudo é mágico, se quisermos a magia dentro de nós.
Aqui... Onde tu e eu fazemos o mundo girar.
quinta-feira, 27 de dezembro de 2012
terça-feira, 11 de dezembro de 2012
Se aquele abraço que não se vê...
Ele abraçou-a durante um tempo que pareceu decorrer desde o nascimento do Universo até aos dias de hoje. Um tempo que, ainda assim, foi pouco para revelar todos os sentimentos que por ela nutria.
Tendo como último desejo, nesta vida, sair dos seus braços, ela olhava-o com ternura.
A ligação que os unia, invisível ao olhar humano, era como uma fortaleza inquebrável, de uma magnitude divina que até nos descrentes gerava incompreensão.
Se o amor é o motor deste mundo, o Santo Graal desta vida, questiono-me porque razão teremos que viajar até às estrelas, na esperança de alcançar a magia que não encontramos dentro de nós?
Questiono-me se haverá paradigmas por refutar, que nos libertem desta melancolia que nos entorpece o espírito, que nos impede de sermos majestosamente felizes?
Se aquele abraço que não se vê, porque invisível o é, mas que se sente como um raio de sol, porque as flores faz girar...
Se aquele abraço que não se vê, existir uma vida inteira, se tiver nascido no dia em que nascemos, bem antes de termos trocado o primeiro olhar...
...seremos ingénuos, muito ingénuos, se não acreditarmos que somos feitos da mesma matéria, que fomos feitos um para o outro.
Tendo como último desejo, nesta vida, sair dos seus braços, ela olhava-o com ternura.
A ligação que os unia, invisível ao olhar humano, era como uma fortaleza inquebrável, de uma magnitude divina que até nos descrentes gerava incompreensão.
Se o amor é o motor deste mundo, o Santo Graal desta vida, questiono-me porque razão teremos que viajar até às estrelas, na esperança de alcançar a magia que não encontramos dentro de nós?
Questiono-me se haverá paradigmas por refutar, que nos libertem desta melancolia que nos entorpece o espírito, que nos impede de sermos majestosamente felizes?
Se aquele abraço que não se vê, porque invisível o é, mas que se sente como um raio de sol, porque as flores faz girar...
Se aquele abraço que não se vê, existir uma vida inteira, se tiver nascido no dia em que nascemos, bem antes de termos trocado o primeiro olhar...
...seremos ingénuos, muito ingénuos, se não acreditarmos que somos feitos da mesma matéria, que fomos feitos um para o outro.
segunda-feira, 3 de dezembro de 2012
Para além das estrelas
Ainda assim, muito longe do número de segredos que guardam as estrelas do nosso céu.
Cada estrela, um abraço nosso. Um abraço, e mil e um segredos por desvendar.
Mil e um tesouros escondidos no longínquo universo, por cada estrela, por cada abraço nosso.
Quem guardará a chave de tantos tesouros perdidos, a combinação que fará de nós príncipes e princesas de um conto por escrever?
Ensinaste-me a ver para além das estrelas. Em troca, dei-te o meu coração e mil e um mundos por descobrir.
Abraça-me.
terça-feira, 27 de novembro de 2012
Assim é...
Francisco Miguel Sousa. |
... assim é o amor.
segunda-feira, 19 de novembro de 2012
El Mundo de los Sueños
Cuando estamos juntos, ordenamos que se pare el tiempo.
Suspendida en el aire, la arena que cae dentro del reloj de arena supera la
gravedad. El tiempo se detiene.
La felicidad es nuestro estado de gracia, y nuestros rostros
no conocen mas que la sonrisa del otro.
Todos los días nos despertamos con el canto de los pájaros,
con el aroma primaveral de las flores.
Los días se pasan en una agitación apasionada, con viajes
por los sueños más bellos que somos capaces de soñar.
Nos sumergimos en las aguas cálidas de las playas más
impresionantes jamás imaginadas, volamos sobre paisajes que ni siquiera Dios
podría crear.
Nos contemplamos a la hora de dormir, abrazados, dejando
nuestros espíritus libres para que se amen.
Cuando cae la noche, llamamos a nuestro mundo la luz de las
estrellas, que nos vela el sueño con un brillo especial y fascinante.
Con los ojos cerrados, puedo sentir tu aire de niña traviesa
tocando mi corazón, con el mismo encanto que caracteriza nuestra pasión.
Sentados, ahora, en la cima del Mundo de los Sueños, vemos
nacer el sol como si fuera la primera vez, cuyos rayos dan brillo a tu cabello largo y rubio.
Tomados de la mano, miramos, juntos, el cielo.
Este mundo es sólo nuestro.
quinta-feira, 15 de novembro de 2012
Falso moralista
Um falso moralista não é mais que alguém (bem) mascarado a tempo inteiro. E já que falamos em máscaras, confesso-vos que nunca me deslumbrei pelo carnaval. O entrudo, contrariamente à maior parte dos acontecimentos festivos, prolonga-se durante três dias consecutivos por ano, período de tempo que, ainda assim, poderá ser considerado tolerável.
Ora, há quem goste de se mascarar de super-homem, de palhaço, de Calimero ou até mesmo de Abelha Maia. Também há quem goste de usar máscaras, nove meses depois do carnaval, simplesmente para esconder rostos hediondos e poder arremessar pedras contra quem garante a segurança interna e os direitos dos cidadãos (não, curiosamente não me refiro aos políticos).
Eu, por exemplo, já sei do que me vou mascarar no próximo carnaval. Irei vestir a pele de falso moralista. Em que consiste a máscara? Ainda não estou certo, mas tenho tirado bastantes apontamentos...
Ora, há quem goste de se mascarar de super-homem, de palhaço, de Calimero ou até mesmo de Abelha Maia. Também há quem goste de usar máscaras, nove meses depois do carnaval, simplesmente para esconder rostos hediondos e poder arremessar pedras contra quem garante a segurança interna e os direitos dos cidadãos (não, curiosamente não me refiro aos políticos).
Eu, por exemplo, já sei do que me vou mascarar no próximo carnaval. Irei vestir a pele de falso moralista. Em que consiste a máscara? Ainda não estou certo, mas tenho tirado bastantes apontamentos...
segunda-feira, 12 de novembro de 2012
Descida ao Inferno
Quando lá cheguei, já era noite. Para meu enorme espanto, o Inferno em chamas que esperava encontrar, não o era. O calor que nos cresta a pele, que nos incinera o espírito e nos inflama a mente, não habitava aquele local de coração aberto e céu estrelado.
O único som que se fazia ouvir era o respirar da noite, cadenciado, harmonioso. Havia árvores, muitas, de pequeno e médio porte, cuja ramagem vibrava à passagem do vento sem que ao ouvido se fizesse sentir.
Espreitei o relógio de pulso que trazia comigo. Os ponteiros eram como que adereços vítimas de uma inusitada inércia, marcando um tempo incerto num local pouco dado ao tempo.
Espelhos. Havia-os por todo o lado, com mil olhos perscrutadores que vigiavam os meus passos, com mil olhos inquisidores que rebuscavam a minha mente. À passagem por cada um, o reflexo mantinha-se fiel ao anterior e não lograva as minhas expectativas. Era o diabo que eu via refletido em cada espelho, não estivesse eu no Inferno.
Perdido o norte, dei comigo a caminhar em círculos. Receoso de não ver cumprida a missão que me levara ao lugar dos demónios, encontrei-me entorpecido por todos os medos que em mim existiam.
Mas o diabo, qual bom samaritano capaz de surpreender o mais descrente, tomou a liberdade de afugentar tais temores, num ato divino de redenção.
Sentindo-me revitalizado, fui ao teu encontro seguindo um caminho que não estava destinado, contrariando, ferozmente, o que estava escrito nas estrelas.
Encontrei-te aninhada junto ao sopé de uma árvore envelhecida por um tempo que teima em não passar.
Abracei-te, levei-te comigo. Para bem longe do Inferno.
O único som que se fazia ouvir era o respirar da noite, cadenciado, harmonioso. Havia árvores, muitas, de pequeno e médio porte, cuja ramagem vibrava à passagem do vento sem que ao ouvido se fizesse sentir.
Espreitei o relógio de pulso que trazia comigo. Os ponteiros eram como que adereços vítimas de uma inusitada inércia, marcando um tempo incerto num local pouco dado ao tempo.
Espelhos. Havia-os por todo o lado, com mil olhos perscrutadores que vigiavam os meus passos, com mil olhos inquisidores que rebuscavam a minha mente. À passagem por cada um, o reflexo mantinha-se fiel ao anterior e não lograva as minhas expectativas. Era o diabo que eu via refletido em cada espelho, não estivesse eu no Inferno.
Perdido o norte, dei comigo a caminhar em círculos. Receoso de não ver cumprida a missão que me levara ao lugar dos demónios, encontrei-me entorpecido por todos os medos que em mim existiam.
Mas o diabo, qual bom samaritano capaz de surpreender o mais descrente, tomou a liberdade de afugentar tais temores, num ato divino de redenção.
Sentindo-me revitalizado, fui ao teu encontro seguindo um caminho que não estava destinado, contrariando, ferozmente, o que estava escrito nas estrelas.
Encontrei-te aninhada junto ao sopé de uma árvore envelhecida por um tempo que teima em não passar.
Abracei-te, levei-te comigo. Para bem longe do Inferno.
terça-feira, 6 de novembro de 2012
Quase
Recostado na sua cadeira de baloiço, naquele alpendre feito de madeira comida pelo sol dia após dia, as pernas cruzadas com os pés apoiados no parapeito, o olhar cravado no infinito.
A temperatura amena que se fazia sentir aquecia-lhe o espírito com alguma relutância. O pensamento vagueava ora cá, ora lá, vezes sem conta pregado às lembranças que ainda tinha dela.
O sol acabou de nascer, e com ele a natureza que se espreguiça uma vez mais para um longo dia de verão. O calor ganha força e os pensamentos vão-se tornando cada vez mais nítidos, com uma fulgência inusitada mas compreensível.
As horas passam. Enquanto isso, o sol percorre o seu caminho até ao topo dos céus, com o intuito de abraçar o mundo inteiro de uma só vez. Os pensamentos fixam-se em ti. Naquilo que poderia ter sido, mas que ficou sempre aquém. Naquilo que esteve perto, mas simultaneamente tão longe. Naquilo que se sonhou, mas que nunca saiu do papel.
Ele levanta-se, deixando atrás de si a cadeira a baloiçar vagarosamente. Quem se levanta, também, é o vento, formando umas quantas nuvens de poeira dourada no ar.
Caminhando na direção do horizonte, ele deixa para trás o sol e tudo o que lhe ocupava a mente, ali naquele alpendre plantado numa imensa planície.
Caminhando na direção do horizonte, ele vai deixando cair uma mão cheia de sementes que consigo trazia, ali naquela terra ressequida pelo calor.
O que ficará por nascer, não sabemos... deixemos o coração terminar a história.
A temperatura amena que se fazia sentir aquecia-lhe o espírito com alguma relutância. O pensamento vagueava ora cá, ora lá, vezes sem conta pregado às lembranças que ainda tinha dela.
O sol acabou de nascer, e com ele a natureza que se espreguiça uma vez mais para um longo dia de verão. O calor ganha força e os pensamentos vão-se tornando cada vez mais nítidos, com uma fulgência inusitada mas compreensível.
As horas passam. Enquanto isso, o sol percorre o seu caminho até ao topo dos céus, com o intuito de abraçar o mundo inteiro de uma só vez. Os pensamentos fixam-se em ti. Naquilo que poderia ter sido, mas que ficou sempre aquém. Naquilo que esteve perto, mas simultaneamente tão longe. Naquilo que se sonhou, mas que nunca saiu do papel.
Ele levanta-se, deixando atrás de si a cadeira a baloiçar vagarosamente. Quem se levanta, também, é o vento, formando umas quantas nuvens de poeira dourada no ar.
Caminhando na direção do horizonte, ele deixa para trás o sol e tudo o que lhe ocupava a mente, ali naquele alpendre plantado numa imensa planície.
Caminhando na direção do horizonte, ele vai deixando cair uma mão cheia de sementes que consigo trazia, ali naquela terra ressequida pelo calor.
O que ficará por nascer, não sabemos... deixemos o coração terminar a história.
sábado, 3 de novembro de 2012
O nosso sorriso
daqui. |
Quando dois olhares se cruzam e não veem o mesmo destino, quando dois corpos se juntam e não sentem o mesmo mundo, isso não significa que o caminho que escolhemos não tenha sido bem traçado.
Os caminhos são mutáveis, por vezes com abismos pelo meio, tantas vezes atravessados por quem nos dá a mão para não cairmos, outras tantas por quem apenas nos procura puxar para um qualquer pélago.
No entanto, de uma coisa poderemos estar certos: se o nosso sorriso não revela quem realmente somos, então o caminho que percorremos não nos levará a lado algum.
quinta-feira, 1 de novembro de 2012
O fim anunciado
Quando o vento te escapa por entre as mãos, quando este te sussurra ao ouvido palavras que não queres ouvir, o teu ser fugidio procura abrigo no meu coração.
Sempre que o destino se afigura perto, sempre que o amor dança dentro de nós como se o mundo fosse renascer, o teu ser fugidio foge para bem longe, onde o tempo e o espaço não mais existem.
Amanhã, quando a meio de um sonho a realidade e a magia se fundirem numa amálgama de sentimentos e sensações difíceis de compreender, quando procurares despertar e o teu corpo inerte não responder, irás chamar pelo meu nome.
Quando o amanhã chegar, quando eu estiver bem perto de ti mas o meu coração estiver onde o tempo e o espaço não mais existem, quando eu procurar despertar-te e me faltarem as forças, o sol terá nascido com a mesma energia, a chuva cairá com a mesma cadência, o mar guardará os mesmos segredos.
Nesse momento, o fim anunciado marcará o princípio de uma nova era.
Sempre que o destino se afigura perto, sempre que o amor dança dentro de nós como se o mundo fosse renascer, o teu ser fugidio foge para bem longe, onde o tempo e o espaço não mais existem.
Amanhã, quando a meio de um sonho a realidade e a magia se fundirem numa amálgama de sentimentos e sensações difíceis de compreender, quando procurares despertar e o teu corpo inerte não responder, irás chamar pelo meu nome.
Quando o amanhã chegar, quando eu estiver bem perto de ti mas o meu coração estiver onde o tempo e o espaço não mais existem, quando eu procurar despertar-te e me faltarem as forças, o sol terá nascido com a mesma energia, a chuva cairá com a mesma cadência, o mar guardará os mesmos segredos.
Nesse momento, o fim anunciado marcará o princípio de uma nova era.
sexta-feira, 26 de outubro de 2012
Sonhos, ilusão e um pouco de razão
Sónia Guerreiro |
E, acredita, nunca será tarde para refletir. Contrariamente ao que possas pensar, nós não somos aquilo que já fizemos, aquilo que está para trás. Somos, tão-somente, aquilo que temos por fazer, pois não esqueçamos do seguinte: o passado não será nada mais que o caminho percorrido para o futuro.
Permitir que a ilusão entorpeça a razão nunca deixará de ser belo no mundo dos sonhos. Na vida real, a ilusão poderá tornar-se, verdadeiramente, traiçoeira e desleal com o que desejas para ti.
"Nunca desistas dos teus sonhos", é o que nos dizem, tantas e tantas vezes, vezes sem fim. Desistir de um sonho não deverá ser encarado como um sinal de fraqueza, muito pelo contrário. Desistir de um sonho poderá revelar a maturidade e racionalidade necessárias para entender que, em dado momento, o impossível poderá ser algo factual.
sábado, 20 de outubro de 2012
A tempestade que vem a caminho
Sónia Guerreiro |
A vida terá sido apenas uma, a vossa, numa união enigmática para muitos.
Aqueles que não o procurarem, não terão sido mais que uns indigentes colecionadores de troféus, cujas lágrimas, um dia, irão cair na direção do céu, como uma chuva que nasce de dentro de nós para apagar um fogo dissimulado que brota das tormentosas nuvens que habitam no firmamento.
Crescemos a ouvir que tudo tem o seu tempo. Esperemos que a tempestade que vem a caminho, com tanto ainda por sonhar e viver, não nos atinja no tempo errado.
terça-feira, 16 de outubro de 2012
O reencontro
Sónia Guerreiro |
Os seus pés, perfeitos, hesitaram no momento de tocar no chão frio que os granjeava. É certo que nunca entenderemos o porquê de tal hesitação, tão certo como que, no instante seguinte, a Princesa da nossa história voltou a adormecer e a entrar no extraordinário mundo dos sonhos.
E foi a sonhar que tudo se tornou claro e evidente. Não podia esperar nem mais um segundo. O seu subconsciente encarregou-se de criar um cenário verdadeiramente encantador, repleto de magia e beleza em tudo aquilo que nele habitava. Perante tal cenário, a Princesa dispôs-se a procurar aquilo que havia perdido, há muito tempo, num sonho antigo que se havia transformado em pesadelo.
E eis que a tarefa não se revelou complacente. Encontrar um coração despedaçado, num sonho que muitas vezes não é o nosso, pode revelar-se mais exigente que descobrir a saída de um labirinto que não a tem.
O sonho durou dias e noites, até que, por fim, a Princesa reencontrou o seu coração. Perdido, confuso, mas feliz, era assim que ele se sentia. Simplesmente feliz, pelo reencontro.
Para encontrarmos o caminho da felicidade, não há outra forma senão andarmos de mãos dadas com o nosso coração.
domingo, 14 de outubro de 2012
Aqueles de quem gostamos
Sónia Guerreiro |
Ela não escolheu partir. Ele não escolheu perdê-la. Dentro de si, porém, ela continua a existir, da mesma forma como sempre existiu. Com o mesmo sorriso, feliz, com o mesmo olhar, doce, com o mesmo amor que tinha por ele, eterno.
Acusam o homem de ser avesso à mudança, de lhe resistir obstinadamente. A cruel verdade é que, quando alguém parte, o mundo continua o mesmo (e o homem também). O sol continua a nascer todos os dias, umas vezes com mais energia, outras nem tanto. A natureza segue o seu caminho programado, surpreendendo apenas quem desconhece a sua magnitude. A lua continua a ser dona da sua vontade, surgindo e desaparecendo quando mais lhe convém.
A razão dirá ao coração para chorar, pois só assim fará sentido aceitar o adeus. Mas ele apenas irá chorar até ao momento em que perceber que ela não partiu, que não a perdeu.
Aqueles de quem gostamos nunca deixarão de estar connosco. Existem em nós, por um tempo eterno, bem junto do nosso coração.
quarta-feira, 10 de outubro de 2012
Vaticínios
Sónia Guerreiro |
Naquilo que deixámos de fazer, mas que nos tornava superiores. Naquilo que fazemos, apenas porque sim. Naquilo que deixamos por fazer, porque a inércia é mais forte que nós.
Não caminhamos para novos, qual verdade de La Palice.
O coração, quérulo, respira fundo, ao mesmo tempo que pede um novo fôlego.
Os segundos parecem ora passar devagar, ora passar depressa, demasiado depressa. Curiosamente, alguém me disse que passam sempre com a mesma cadência, como as gotas que caiem de uma torneira mal fechada. Não sei se hei de acreditar, pois ainda agora pareceu-me ver o tempo parar.
E, com o tempo parado, consigo ver o futuro. E, deixa que te conte, é deveras estranho veres-te num tempo que ainda não passou, que ainda está por vir, a rasgar o racional que existe em ti e que te ordena a acordar, pois de um sonho não poderá passar.
Um sonho viciador, como uma droga que nos corre nas veias e que nos arrebate o espírito, que nos impele a respirar fundo com o coração, a agarrar no tempo com as duas mãos, mãos sofridas pelo áspero labor do quotidiano, e a mandá-lo para trás das costas.
O futuro? Nunca o verás através de uma bola de cristal. O futuro está diante de ti, a cada segundo que passa, ora devagar, ora depressa... demasiado depressa.
quarta-feira, 26 de setembro de 2012
O caminho
Sónia Guerreiro |
A carta voa para um destino incerto, na esperança de ser recebida pelas mãos que a esperam.
Transportada pelo vento, vai perdendo, ao longo do seu trajeto, as palavras que te escrevi.
Atravessa uma tempestade, talvez duas, antes de cair aos teus pés.
"Gosto muito de ti", foi a única frase que a folha de papel guardou.
No céu, o teu sorriso desperta um arco-íris, o sinal pelo qual eu sempre esperei.
Agora, que conheço o caminho, o mundo é meu para sempre.
domingo, 23 de setembro de 2012
Sem tempo
Disseram-me que eu tinha apenas cinco minutos para escrever. Irritei-me. Exasperado, gritei, praguejei, insultei Jesus Cristo, Nosso Senhor.
Somos levados a crer que o tempo cura tudo. Cura? Mesmo? Aquilo que o tempo faz não é magia, como se de um mágico se tratasse, e também não é o remédio para nada, assumida a personificação de um curandeiro. O tempo apenas nos coloca, a cada segundo que passa, mais perto do nosso destino.
E se a verdade custa a ser aceite, então nada mais haverá a fazer que esperar. Pois o tempo tudo cura, ou não?
Momentos há, na nossa vida, em que o tempo simplesmente pára. E esses momentos, não são mais que feridas curadas por um tempo que não passou, não são mais que as cicatrizes da nossa memória.
O relógio já marca dez minutos desde há pouco. Maldito sejas, tempo.
Somos levados a crer que o tempo cura tudo. Cura? Mesmo? Aquilo que o tempo faz não é magia, como se de um mágico se tratasse, e também não é o remédio para nada, assumida a personificação de um curandeiro. O tempo apenas nos coloca, a cada segundo que passa, mais perto do nosso destino.
E se a verdade custa a ser aceite, então nada mais haverá a fazer que esperar. Pois o tempo tudo cura, ou não?
Momentos há, na nossa vida, em que o tempo simplesmente pára. E esses momentos, não são mais que feridas curadas por um tempo que não passou, não são mais que as cicatrizes da nossa memória.
O relógio já marca dez minutos desde há pouco. Maldito sejas, tempo.
sábado, 22 de setembro de 2012
A tua estrela
Quando choras, a tua estrela perde força. O seu fogo ardente é assolado por uma chuva miudinha de lágrimas, as tuas lágrimas, que surgem de um sítio distante mas tão próximo de mim: do teu coração.
E porque chora ele, cujas lágrimas arrefecem aquele local inóspito que não é a terra nem o céu? E as saudades, porque sufocam elas a tua estrela, deixando-a num estado de inusitado desespero?
As lágrimas que não consegues conter, as saudades que não deixas de sentir, o amor em que só nós os dois existimos. Não deixes a tua estrela morrer...
sexta-feira, 7 de setembro de 2012
Egoísmo endémico e afins
Egoísmo endémico. Este,
que nos rodeia, que nos corre nas veias, que se propaga como uma epidemia.
Inexistência de altruísmo, busca incessante da
satisfação (única) dos nossos interesses, atropelando, sem escrúpulos, todos
aqueles que se atravessam no nosso caminho.
Filantropia utópica, existente apenas nos livros,
apregoada – ainda assim – por aqueles que ditam as regras do jogo.
Quem é que abriu a caixa de pandora, cujos todos
os males se abateram sobre nós? Preparem-se, pois a miséria ainda agora
começou, e a panaceia só se encontra disponível para os falaciosos
predestinados.
Para onde caminhamos?
Para onde caminhamos?
sábado, 1 de setembro de 2012
O vazio
O frio que se fazia sentir dentro de nós rasgava-nos o espírito como uma noite de tempestade em alto mar.
Espíritos desfeitos, derrotados por uma desmedida falta de esperança, de alento, de fôlego.
Os sorrisos, esses, há muito que deixaram de existir, tendo ficado apenas, no seu lugar, umas quantas pregas na pele dos nossos rostos, representando uma ténue lembrança daquilo que um dia foram.
As estrelas sempre lá estiveram, indicando-nos o caminho a seguir. Presos a uma tenacidade falaciosa, o caminho que seguimos foi o mais duro, o mais penoso, o mais acerbado, como se tivéssemos optado por percorrer o mundo de mãos dadas sobre um caminho em brasas.
Hoje, pouco ou nada resta de nós. Corpos vagabundos, hospedeiros de espíritos errantes, reduzidos a uma insignificância miserável, qual universo vociferante a explodir dentro de nós.
Se outrora fomos um só, hoje não somos mais que mil pedaços espalhados ao vento, num vazio que tudo consome e em que nada existe.
Espíritos desfeitos, derrotados por uma desmedida falta de esperança, de alento, de fôlego.
Os sorrisos, esses, há muito que deixaram de existir, tendo ficado apenas, no seu lugar, umas quantas pregas na pele dos nossos rostos, representando uma ténue lembrança daquilo que um dia foram.
As estrelas sempre lá estiveram, indicando-nos o caminho a seguir. Presos a uma tenacidade falaciosa, o caminho que seguimos foi o mais duro, o mais penoso, o mais acerbado, como se tivéssemos optado por percorrer o mundo de mãos dadas sobre um caminho em brasas.
Hoje, pouco ou nada resta de nós. Corpos vagabundos, hospedeiros de espíritos errantes, reduzidos a uma insignificância miserável, qual universo vociferante a explodir dentro de nós.
Se outrora fomos um só, hoje não somos mais que mil pedaços espalhados ao vento, num vazio que tudo consome e em que nada existe.
quinta-feira, 30 de agosto de 2012
O segredo
Sónia Guerreiro |
O que temia? Viver sem cor, sem brilho, sem felicidade.
Fruto do quê? De uma verdade demasiadamente dura, talvez incisiva, quem sabe.
Mas teria ela conhecimento de tamanho segredo? Isso é algo que nunca iremos saber.
Porquê? Porque esse mesmo segredo sempre se encontrou escondido dentro do seu coração.
Se ele não sabia? Não, de facto não sabia. O essencial é, realmente, invisível aos olhos.
Qual a razão de tanto medo? Imagina tu que, ingenuamente, acreditas conhecer o segredo; como te sentirias se, de repente, também o teu coração tivesse conhecimento do mesmo? Valeria a pena continuar?
Poderá haver um infinito número de conceitos para o sentimento supremo, aquele que dita as regras da nossa vida. Mas existirá algum mais rigoroso e verdadeiro que os restantes? Não, certamente que não.
O que é, afinal, o amor? Esse, será sempre o nosso segredo.
domingo, 22 de julho de 2012
Ensaio sobre o ressabiamento
Sónia Guerreiro |
Perfeito, só mesmo o nosso querido deus, que – ainda assim – se tramou quando quis brincar ao "vamos-ver-quem-é-o-primeiro-a-dar-a-dentada-no-fruto" (herege? Não sou perfeito, certo?).
Posto isto, é inequivocamente desnecessário – eufemismo para "estúpido" – invetivar (ainda que de forma muito subtil e harmoniosa) e censurar os outros, por "aqueles" defeitos que não somos capazes de reconhecer em nós próprios (mas que existem, e que nos conferem aquele sorriso e olhar especiais quando a cólera se incendeia dentro de nós).
Pureza intacta não existe (existiu, sim, antes da "dentada"), por isso seremos bem mais felizes se nos conformarmos com algumas das coisas que nos vão surgindo ao longo da vida, ao invés de andarmos de braços no ar com um placar a expor os ditos defeitos, qual menina sorridente num ringue de boxe.
Em suma, não fará sentido procurarmos uma desacreditação de nós mesmos de uma forma tão gratuita e, diria, irrefletida, pois essa será, certamente, a via mais fácil de nos tornarmos vítimas da nossa própria armadilha.
quarta-feira, 18 de julho de 2012
No meu coração
Dentro de ti, existem flores que nunca antes vi.
Sónia Guerreiro |
O sol exulta quando te vê, feliz por poder brilhar com toda a sua força.
O mundo gira como um peão que não quer tombar, radiante por sentir os teus passos.
Quantas estrelas, lá longe, não disputam o melhor palco, para conseguirem preencher o teu céu.
A lua concede-te o dom da levitação, para que possas sobrevoar os nossos mares.
A mim, resta-me dar-te um beijo de boa noite, na esperança que, amanhã, possas acordar no meu coração.
segunda-feira, 16 de julho de 2012
Além
Sónia Guerreiro |
O frio abatera-se sobre aquele inóspito local com uma força surpreendentemente opressora, como se alguém tivesse decidido parar o tempo por momentos, suspender a vida por uns instantes.
Não pude prever o que estava para acontecer, embora, se tivesse tido a capacidade de o imaginar, nada teria sido diferente.
Cheirava a terra molhada e a lareiras de outono. O nevoeiro a passar em pano de fundo, silencioso como um espírito errante numa noite perdida no tempo. A chuva caía, delicadamente, na água imensa daquele lago, talvez receosa de o acordar.
Eu, sentado naquele pequeno barco a remos, tão-somente imerso nos meus pensamentos, pensamentos sem sítio para onde fugir.
A morte surgiu em forma de mulher e, sem pedir permissão, sentou-se bem junto a mim. Porquê a sua presença? E donde havia surgido assim de repente?
As interrogações prolongaram-se durante largos minutos, enquanto o frio me enregelava a alma. Creio que instantes houve em que deixei totalmente de pensar (quiçá se os pensamentos não fugiram realmente?), como se adormecido por um qualquer superior estado de meditação.
A sua presença era-me indiferente. Sei que não estava ali por mim, para me dar a mão e me levar para bem longe, onde nem o frio se é capaz de sentir, onde o vazio se torna tudo.
"O que é isso do amor", perguntou-me precipitadamente, "do qual todos falam sem consenso?". "Onde posso encontrá-lo?", concluiu.
Fiquei genuinamente perturbado com aquele momento, temendo, é certo, que pudesse assumir uma intemporalidade característica dos momentos fruto da nossa imaginação.
A verdade, é que não sabia o que responder. "Só o poderás encontrar dentro de ti, certamente, no dia em que te libertares de todos os medos que te acompanham e que, obstinadamente, negas existirem dentro de ti. Sobre o seu significado... bem, poderia aqui estar uma vida inteira para encontrar a sua definição perfeita, ainda que consciente da sua inexistência. Mas uma vida não seria suficiente, e tu... tu nunca irias esperar por mim".
E a morte esfumou-se por entre os meus dedos, deixando presente um aroma a amor. Mas afinal... o que é o amor?
terça-feira, 10 de julho de 2012
Palavras
Sónia Guerreiro |
Por essa razão, e porque acredito naquilo que escrevo, das cicatrizes do meu corpo arrancarei a doutrina por mim criada, aquela que te fará feliz até no passado que já viveste.
As minhas palavras serão o elixir para o amor eterno, mesmo quando dos meus lábios apenas ouvires o silêncio dos meus pensamentos.
Aguarda-me.
segunda-feira, 2 de julho de 2012
Se a dor fosse...
Sónia Guerreiro |
... se a dor fosse apenas isto, iria ao teu encontro todos os dias da minha vida.
domingo, 1 de julho de 2012
Sem nome
Sónia Guerreiro |
O sol, a nascer bem longe lá no horizonte, irradiando a magnitude de um novo dia.
O mar, numa majestosa dança entre ondas e marés, refrescando a terra à sua volta.
A amizade, aquilo que nos une a quem mais gostamos, naturalmente verdadeira e espontânea.
A vida, que quando partilhada com aquela pessoa, se torna singularmente bela e prazerosamente enigmática.
E isto, isto é tão-somente o amor. Com a certeza, porém, que nada sei sobre ele...
terça-feira, 26 de junho de 2012
Um caminho, um instante
Sónia Guerreiro |
Esperou, enquanto a lua embalava as noites e o sol amornava os dias. Esperou, sabendo que ele não mais voltaria, sabendo que a espera seria vã, como se esperasse o passado no futuro, ou o futuro no passado.
Esperou, alimentando a esperança que em si existia, com recordações que foi esquecendo. Porque a memória é traiçoeira, se o é.
Esperou, até se sentir exausta, como se acabasse de nascer e o ar lhe faltasse para poder chorar.
A espera foi madrasta para os sonhos que habitavam em si.
Ele quis reencontrar-te, eu sei que sim. Mas o caminho, o caminho já não tinha o mesmo chão...
segunda-feira, 25 de junho de 2012
O coração do nosso mundo
daqui. |
O céu estava tingido de um laranja que eu nunca tinha presenciado, nunca, um laranja que tocava o horizonte e contagiava toda a terra ao seu redor. Era um laranja que enchia de sensibilidade aqueles que se encontravam desprovidos dela, emocionando todos os demais. Poderá, um momento destes, ser real?
Os pássaros voavam ao sabor da música, aquela música que não era agridoce, mas simplesmente doce. O calor, o calor que se fazia sentir era bafejado por uma brisa fresca vinda das poucas árvores que me rodeavam. Senti-as felizes, e não o estranhei. Quando a essência dos seres nos toca o coração, somos capazes de ver a vida pintada com as cores do arco-íris. E a vida, assim, é sobejamente bonita.
Deito-me na terra, e olho o céu – uma vez mais. Fixo o meu olhar num ponto distante, e sorrio. Começa a cair uma chuva miudinha, muito miudinha, que por momentos me arrefece o espírito. Sinto o coração do nosso mundo a bater, cadenciado, numa harmonia perfeita.
A natureza, dentro de mim, ardente, ébria, chama pelo meu nome. A música não pára, e eu sou, uma vez mais, verdadeiramente feliz.
domingo, 3 de junho de 2012
O demónio
E o demónio seguiu-me, como se visse em mim o seu alvo, sendo ele um experimentado predador. Seguiu-me por entre ruas que eu desconheço, por entre ruas que não existem, por entre ruas criadas por si a cada instante, com becos que desembocam em becos, sucessivamente mais estreitos e curtos, fazendo de mim a sua personagem idílica de uma emboscada há muito idealizada. E eu não conto com a ajuda de ninguém, pois sou apenas eu e o demónio, o demónio e eu, como se me encontrasse à deriva num mar encruzilhado, sistematicamente fustigado pela sua fúria demoníaca, à deriva num mar encruzilhado. E eu decido interromper a fuga, pois o demónio não pode ser real, não pode ser real, e o demónio sorri, sibilante, e fixa-me o olhar, o demónio, e a terra arde e ferve por baixo dos seus cascos, e o calor queima-me e consome-me o espírito. E eu pergunto-lhe o que queres, sua traça que tudo corrói, que tudo desfaz, que tudo destrói, que tudo arruína, que tudo perverte. E o demónio olha-me com compaixão, como se de um velho amigo eu me tratasse. E o seu sorriso, inquietante, provocador, nunca se altera. É um sorriso matraqueado, insistente, intemporal. E eu volto costas ao demónio, e as ruas já não são as mesmas. A noite caiu com mão pesada sobre aquele labirinto que é negro como o fundo de um poço, onde já não existe esperança para quem no seu interior tropeçou. E a noite caiu sem estrelas, sem lua, sem sentimento. E eu olho o céu, e vejo o sorriso do demónio, sibilante, omnipresente, omnipotente. E a terra queima sob os meus pés, fervo por dentro como se atingido por uma febre perniciosa. E retomo o passo, depois de uma eternidade que passou naquele instante, preparado para uma eternidade de instantes que há de vir. E corro, agora, no teu encalço, demónio, cujo rasto não são mais que feridas abertas nesta terra, nesta terra que não te pertence, que não é tua. E cravo o meu olhar no teu, demónio, num instante que será eterno, num instante que será somente meu. Aceita o meu sorriso.
sábado, 26 de maio de 2012
Tempo
A vida é curta. Não me façam crer o contrário. Vivêssemos nós mil anos, e ainda assim seria curta.
Mais curta ainda, porque não lhe conhecemos o fim, o dia em que o eu deixa de ser eu, passando a ser, apenas, um vazio silencioso.
Mas ainda bem que assim o é, pois doutra forma, que vida infeliz seria a nossa, lutando contra o tempo perante o impiedoso calendário daquela a quem chamamos morte.
E não havendo forma de contornar o tempo, apenas se me afigura uma única forma de estar: viver e ser feliz, sem nunca baixar a guarda.
Pois no dia em que me surgires com o calendário na mão e um sorriso vadio nos lábios, dizendo-me que o tempo se encontra instável, e que assim se encontra o meu estado de espírito, prepara-te...
...a caçadeira irá estar carregada.
Mais curta ainda, porque não lhe conhecemos o fim, o dia em que o eu deixa de ser eu, passando a ser, apenas, um vazio silencioso.
Mas ainda bem que assim o é, pois doutra forma, que vida infeliz seria a nossa, lutando contra o tempo perante o impiedoso calendário daquela a quem chamamos morte.
E não havendo forma de contornar o tempo, apenas se me afigura uma única forma de estar: viver e ser feliz, sem nunca baixar a guarda.
Pois no dia em que me surgires com o calendário na mão e um sorriso vadio nos lábios, dizendo-me que o tempo se encontra instável, e que assim se encontra o meu estado de espírito, prepara-te...
...a caçadeira irá estar carregada.
quinta-feira, 10 de maio de 2012
Tiquetaque
Ela agarrou-se às palavras soltas que viajavam no tempo, a uma velocidade bem superior à da luz. Palavras intemporais, que perpetuavam um ilusório sentimento de existência.
Levantou-se, por entre alguns suores frios que a haviam atormentado nos últimos instantes, e caminhou até à janela.
A lua não estava presente. De facto, pouco importava. A noite estava escura como breu, o vento soprava à força de pulso (divino, quem sabe?).
Os espíritos, em turba, passeavam sem destino naquela noite fria, quais figuras erráticas à procura do seu lugar.
Perante aquele cenário, ela sorriu, ao mesmo tempo que acendeu um cigarro. Receosa de voltar a adormecer e de não mais voltar a acordar, ali se deixou permanecer, cigarro após cigarro.
Viu o sol e a lua jogarem ao esconde-esconde durante dias e noites a fio, num ciclo que se tornou, impetuosamente, vicioso.
Viu nascer as últimas flores, viu os rios e o mar secarem, viu a neve cair incessantemente, derreter e ser devorada pelo inferno sob os seus pés.
Viu o mundo reduzir-se a pó, sem nunca o ter desejado.
E agora? Agora, que a ampulheta da sua vida perdeu a areia que lhe restava, nada mais há a fazer.
Ela apaga o último cigarro, piscando o olho ao sono que lhe trará descanso...
Tiquetaque. O tempo chegou ao fim.
Levantou-se, por entre alguns suores frios que a haviam atormentado nos últimos instantes, e caminhou até à janela.
A lua não estava presente. De facto, pouco importava. A noite estava escura como breu, o vento soprava à força de pulso (divino, quem sabe?).
Os espíritos, em turba, passeavam sem destino naquela noite fria, quais figuras erráticas à procura do seu lugar.
Perante aquele cenário, ela sorriu, ao mesmo tempo que acendeu um cigarro. Receosa de voltar a adormecer e de não mais voltar a acordar, ali se deixou permanecer, cigarro após cigarro.
Viu o sol e a lua jogarem ao esconde-esconde durante dias e noites a fio, num ciclo que se tornou, impetuosamente, vicioso.
Viu nascer as últimas flores, viu os rios e o mar secarem, viu a neve cair incessantemente, derreter e ser devorada pelo inferno sob os seus pés.
Viu o mundo reduzir-se a pó, sem nunca o ter desejado.
E agora? Agora, que a ampulheta da sua vida perdeu a areia que lhe restava, nada mais há a fazer.
Ela apaga o último cigarro, piscando o olho ao sono que lhe trará descanso...
Tiquetaque. O tempo chegou ao fim.
segunda-feira, 7 de maio de 2012
Ensaio sobre o Arrependimento
Serei breve.
De cada vez que ouço (ou leio) alguém dizer algo como "só me arrependo do que não faço", uma nuvem de interrogações paira, de imediato, sobre a minha cabeça.
É verdade que serei suspeito, pelo facto de não ser, propriamente, um fã de máximas. Ainda assim, uma máxima carregada de tanta arrogância, presunção e pretensiosismo na sua essência, naturalmente que nunca se encaixaria na minha caixinha das denominadas "frases feitas".
Para agravar ainda mais o cenário da "bela" máxima, atendamos à origem e significado de "arrependimento":
Do grego μεταμέλεια - Metanóia (Meta=Mudança, Nóia=Mente), arrependimento significa "Mudança de Mentalidade".
Quer isto dizer, então, que eu apenas admito mudar de mentalidade, relativamente àquilo que não fiz? Mais uma nuvem de interrogações...
Posto isto, se alguém me conseguir demonstrar que o aparente antagonismo de uma frase como "só me arrependo do que não faço" é simplesmente má interpretação da minha parte, cá estarei para me arrepender...
... do que (não) escrevi.
De cada vez que ouço (ou leio) alguém dizer algo como "só me arrependo do que não faço", uma nuvem de interrogações paira, de imediato, sobre a minha cabeça.
É verdade que serei suspeito, pelo facto de não ser, propriamente, um fã de máximas. Ainda assim, uma máxima carregada de tanta arrogância, presunção e pretensiosismo na sua essência, naturalmente que nunca se encaixaria na minha caixinha das denominadas "frases feitas".
Para agravar ainda mais o cenário da "bela" máxima, atendamos à origem e significado de "arrependimento":
Do grego μεταμέλεια - Metanóia (Meta=Mudança, Nóia=Mente), arrependimento significa "Mudança de Mentalidade".
Quer isto dizer, então, que eu apenas admito mudar de mentalidade, relativamente àquilo que não fiz? Mais uma nuvem de interrogações...
Posto isto, se alguém me conseguir demonstrar que o aparente antagonismo de uma frase como "só me arrependo do que não faço" é simplesmente má interpretação da minha parte, cá estarei para me arrepender...
... do que (não) escrevi.
"O remorso é uma impotência, ele voltará a cometer o mesmo pecado. Apenas o arrependimento é uma força que põe termo a tudo.", Honoré de Balzac.
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Reflexão
sexta-feira, 4 de maio de 2012
O monstro
daqui. |
Ficaste, quiçá, estupefacto, ou talvez não. Num ímpeto de indisfarçada raiva, levantaste a tua perna direita no ar, até esta perfazer um ângulo de noventa graus com a coxa. No mesmo instante, e com uma violência sobre-humana, lançaste o teu pé ao solo, na esperança de reprimir as palavras que se faziam ouvir.
O mundo estremeceu. O vento não mais se pronunciou.
O clima que se vive é absolutamente singular. As aves que ali se encontravam, nas redondezas, todas elas voaram para bem longe. Desces os três degraus do alpendre para o jardim, sob o olhar atento de um silêncio que nunca, alguma vez, se fez sentir naquele local.
Inspiras, com a indelicadeza que te é característica, o ar inerte que te sufoca. Inspiras com violência, não te sentisses tu o ser mais irascível à face da Terra.
Olhas ao teu redor, o mundo parece acabado. Pesaroso, avanças pela rua fora, sem qualquer pensamento sobre o destino que almejas.
Cospes para o chão, à medida que a estrada ganha uma infinitude quimérica. Sentes-te prisioneiro de um mundo que não é teu, e que ao mesmo tempo procuras destruir.
Tu és o monstro que habita em mim.
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Reflexão
domingo, 22 de abril de 2012
O teu caminho
daqui. |
O ramo de flores que consigo trazia, cujo aroma perfumava a brisa vespertina que se sentia, foi lançado à água com a gentileza própria de uma deidade.
Qual ser divino de carne e osso, ela procurava a expiação redentora de quem já se sentiu perdido neste mundo que parece não ter fim, e que tantas vezes nos leva a cometer erros nos quais não nos revemos.
Juntamente com as flores, seguiram também as suas mágoas, que por um momento foram capazes de asfixiar o rio que naquele mar desaguava.
Com dificuldade, ofegante, o rio tentava - a todo o custo - recuperar a respiração abalada por aquela tormenta de sentimentos que agora lhe corria nas veias.
Foi com estranheza que vislumbrou a imagem refletida na água asfixiada pela sua dor. Era a sua imagem, indistinta, confusa, irreconhecível.
Com o mesmo peso de uma pena voando ao sabor do vento, ela não tardou a colocar um pé e o outro sobre a superfície do rio, caminhando e deixando-se levar pela corrente.
Caminhava, agora, sem medos nem quaisquer pensamentos repressores, à medida que a sua imagem mudava a cada instante em que a corrente escolhia um rumo diferente para seguir.
A noite cai, e o céu ilumina-se para ti. Não tardes a escolher o teu caminho...
sexta-feira, 9 de março de 2012
Um punhado de terra
Descalços, caminhavam sobre um solo carregado de solidão, uma terra taciturna e pesarosa por não lhe ter sido dada a oportunidade de dar vida à vida.
De todos os locais inóspitos que havia percorrido, este era, indubitavelmente, o seu local de eleição. As árvores, despidas e deslutradas, vergavam-se à sua passagem. Por mais violento que pudesse parecer, este era – verdadeiramente – um cenário imperdível.
Os seus dedos, imaculados e suaves, acariciavam levemente as flores, que se esticavam para sentir o seu terno aroma feminino.
"Quem sou eu?", pergunta a si mesma.
Não sei quem és, juro que não sei. Apenas te vislumbro ao longe, bem longe. Não sei se estás no céu, ou se, porventura, este recôndito lugar é o inferno.
O sol escondeu-se. "Miserável, não fujas", digo para comigo. Creio que me ouviste o pensamento, porquanto tentas fitar o meu olhar.
Não sou capaz de te enfrentar. Baixo-me, e agarro num punhado de terra. Posso assegurar-te que sinto a tua dor.
O teu coração arrisca uma súbita paragem. Cais, de joelhos, na terra humedecida pelas lágrimas que não consegues conter. Prostrada, levas as tuas mãos à cara e choras convulsivamente, choras sem parar por um tempo quase eterno.
O sentimento de impotência é algo inimaginavelmente cruel. Tento, a todo o custo, corrigir esta falta de forças que nos atinge. Sinto a terra a consumir-nos o espírito.
"Quem sou eu?", pergunto a mim mesmo, agora já bem próximo de ti.
Seguras-me na mão, por fim.
"Vamos embora. O inferno não foi feito para nós.".
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012
Adónis
Ele tentava, sem sucesso, recriar a alegoria perfeita no papel, a alegoria que se pudesse equiparar àquela história do casal bíblico em que ela comeu a maçã errada e que, à conta disso, o mundo ainda hoje se encontra por endireitar. Nasceu torto, esforço vão.
Papel rasurado, papel rasgado, papel deitado fora.
Ali se encontrava ele, ébrio pelos seus próprios sonhos, aqueles que passavam por si à velocidade da luz, alguns deles infrenes, outros tantos amenos, a maior parte de distinta beleza.
A bolha de oxigénio era imensurável, flutuando ao sabor da inexistente gravidade. Dentro dela, ele flutuava, igualmente, sem sequer se dar conta da levitação de que o seu corpo era capaz.
Os pensamentos surgiam, com a mesma rapidez que o abandonavam. Claudicava, sempre, assim que relia o que acabara de escrever.
Em certo momento, um dos seus sonhos atinge em cheio a cápsula onde este se encontrava, deixando escapar - para o vazio - todo o oxigénio que aquela continha. O nosso adónis, enchendo o peito de ar, mergulha no indómito sonho que se cruzara no seu caminho e, ainda que insone, avança diretamente para o seu âmago, sem nunca olhar para trás.
Reencontra, então, o seu onírico coração, há muito perdido. Consumada a descoberta, volta a si no mesmo instante.
Estás ali, a seu lado, aninhada junto ao seu coração. O local? Desconheço... diria que uma folha de papel.
Sonho raro, este.
Papel rasurado, papel rasgado, papel deitado fora.
Ali se encontrava ele, ébrio pelos seus próprios sonhos, aqueles que passavam por si à velocidade da luz, alguns deles infrenes, outros tantos amenos, a maior parte de distinta beleza.
A bolha de oxigénio era imensurável, flutuando ao sabor da inexistente gravidade. Dentro dela, ele flutuava, igualmente, sem sequer se dar conta da levitação de que o seu corpo era capaz.
Os pensamentos surgiam, com a mesma rapidez que o abandonavam. Claudicava, sempre, assim que relia o que acabara de escrever.
Em certo momento, um dos seus sonhos atinge em cheio a cápsula onde este se encontrava, deixando escapar - para o vazio - todo o oxigénio que aquela continha. O nosso adónis, enchendo o peito de ar, mergulha no indómito sonho que se cruzara no seu caminho e, ainda que insone, avança diretamente para o seu âmago, sem nunca olhar para trás.
Reencontra, então, o seu onírico coração, há muito perdido. Consumada a descoberta, volta a si no mesmo instante.
Estás ali, a seu lado, aninhada junto ao seu coração. O local? Desconheço... diria que uma folha de papel.
Sonho raro, este.
domingo, 29 de janeiro de 2012
Livro do Desassossego
Enquanto lia o "Livro do Desassossego", desassossegado fiquei.
"Não conheço prazer como o dos livros, e pouco leio. Os livros são apresentações aos sonhos, e não precisa de apresentações quem, com a facilidade da vida, entre em conversa com eles. Nunca pude ler um livro com entrega a ele; sempre, a cada passo, o comentário da inteligência ou da imaginação me estorvou a sequência da própria narrativa. No fim de minutos, quem escrevia era eu, e o que estava escrito não estava em parte alguma.", Fernando Pessoa.
Sublime...
"Não conheço prazer como o dos livros, e pouco leio. Os livros são apresentações aos sonhos, e não precisa de apresentações quem, com a facilidade da vida, entre em conversa com eles. Nunca pude ler um livro com entrega a ele; sempre, a cada passo, o comentário da inteligência ou da imaginação me estorvou a sequência da própria narrativa. No fim de minutos, quem escrevia era eu, e o que estava escrito não estava em parte alguma.", Fernando Pessoa.
Sublime...
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Reflexão
Génios, Fernando Pessoa e o nosso país
Não
fosse a existência de uma série de mentes brilhantes – os proeminentes génios
do seu tempo –, ao longo da nossa história enquanto espécie dominante no nosso
planeta, provavelmente ainda estaríamos, neste momento, a saltar de ramo em
ramo numa qualquer longínqua e ancestral floresta africana.
No nosso
passado recente enquanto seres humanos, facilmente se identificam os génios
que, de uma forma ou outra, contribuíram para a evolução da nossa espécie. Não
valerá a pena enunciá-los, nem tão pouco enumerá-los. Face aos milhões e
milhões de pessoas que povoaram a Terra nos últimos dois milénios, os
sobredotados terão sido uma ínfima parcela desse número.
Posto
isto, não será difícil imaginar o desfecho de uma história sem génios. E, a uma
escala mais reduzida, imaginar o destino de um país onde se abrem as portas e
se convidam os seus melhores recursos a ir para bem longe.
Escreveu,
Fernando Pessoa, que "A humanidade, ou qualquer nação, divide-se em três
classes sociais verdadeiras: os criadores de arte; os apreciadores de arte; e a
plebe. As épocas maiores da humanidade são aquelas em que sobressaem os
criadores de arte, mas não se sabe como se realizam essas épocas, porque
ninguém sabe como se produzem homens de génio.".
Pior que
não saber como produzir homens de génio, é permitir que a nossa sociedade se afunde num mar sem terra à vista, ferindo de morte os apreciadores de arte e deixando a plebe morrer à fome.
"Este país não é para velhos", diria Cormac McCarthy. Eu digo mais: este país não é para nada.
sexta-feira, 27 de janeiro de 2012
Junto do teu coração
A flor era perfeita, deslumbrantemente bela. Era a última da sua espécie, ainda que, consciente disso, nenhum estado de solidão a afetasse.
As suas pétalas emanavam o perfume característico dos seres divinos, aquele que os anjos transportam para as nossas vidas nos momentos mais impetuosos e que parecem capazes de abalar os alicerces imaginários que nos prendem a este nosso mundo.
A flor, assumindo a sua face mais insolente, viajou diretamente para o sonho que te encontravas a viver. Sem permissão, perfumou todos os cantos e recantos do teu espírito, enchendo a tua alma – imperiosamente – com o mais distinto dos sentimentos.
Ela não se esqueceu, por último, de se mostrar a ti.
Quando, naquela vasta planície,
Olhavas o céu e contemplavas o nosso Sol,
Quando estendeste os teus braços,
Somente para abraçares o calor que este te oferecia,
A flor, a última da sua espécie,
Voou para junto de ti,
Para junto do teu coração.
As suas pétalas emanavam o perfume característico dos seres divinos, aquele que os anjos transportam para as nossas vidas nos momentos mais impetuosos e que parecem capazes de abalar os alicerces imaginários que nos prendem a este nosso mundo.
A flor, assumindo a sua face mais insolente, viajou diretamente para o sonho que te encontravas a viver. Sem permissão, perfumou todos os cantos e recantos do teu espírito, enchendo a tua alma – imperiosamente – com o mais distinto dos sentimentos.
Ela não se esqueceu, por último, de se mostrar a ti.
Quando, naquela vasta planície,
Olhavas o céu e contemplavas o nosso Sol,
Quando estendeste os teus braços,
Somente para abraçares o calor que este te oferecia,
A flor, a última da sua espécie,
Voou para junto de ti,
Para junto do teu coração.
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Amor
quinta-feira, 26 de janeiro de 2012
Dentro de nós
"A nossa única defesa contra a morte é o amor", disse, um dia, um génio português (escritor).
Quantos de nós não nos esquecemos, em algum momento das nossas vidas (admitindo que não se trata de um esquecimento permanente), da importância do amor como solução e defesa para tantas adversidades?
Não tenho dúvidas no que respeita ao facto de não existir um paradigma da felicidade (ou do amor). São tantos, e tão variados, os fatores que moldam a nossa postura perante a vida, que tentar justificar a felicidade de alguém por meio de um silogismo, por exemplo, seria – notoriamente – absurdo.
Ainda assim, custa-me – sou-vos honesto – perceber o porquê da obsessão concertada de muita gente, em conseguir atingir certos objetivos sem olhar a meios, sem qualquer amor naquilo que fazem (e, quantas vezes, com a morte à espreita...).
A morte é invisível. Não a sentimos – ainda que, de quando em vez, haja lugar a inusitados pressentimentos –, embora ela possa estar bem junto de nós. Por outro lado, acreditar que o amor é visível é um pensamento lírico. O amor existe nas nossas vidas, sob diversas formas, com diferentes intensidades, assumindo sempre a invisibilidade necessária para não se tornar material.
E é por isso que o amor vence sempre, mesmo quando a morte é o opositor a enfrentar.
Quando, um dia, percebermos o sentido da vida (se esse dia chegar), poderá ser tarde de mais. No entanto, não terá sido em vão.
Não nos esqueçamos que "A finitude é o destino de tudo. O Sol, um dia, apagar-se-á" (o escritor tinha razão).
Não vamos esquecer o amor, pois a morte não se esquecerá de nós.
Quantos de nós não nos esquecemos, em algum momento das nossas vidas (admitindo que não se trata de um esquecimento permanente), da importância do amor como solução e defesa para tantas adversidades?
Não tenho dúvidas no que respeita ao facto de não existir um paradigma da felicidade (ou do amor). São tantos, e tão variados, os fatores que moldam a nossa postura perante a vida, que tentar justificar a felicidade de alguém por meio de um silogismo, por exemplo, seria – notoriamente – absurdo.
Ainda assim, custa-me – sou-vos honesto – perceber o porquê da obsessão concertada de muita gente, em conseguir atingir certos objetivos sem olhar a meios, sem qualquer amor naquilo que fazem (e, quantas vezes, com a morte à espreita...).
A morte é invisível. Não a sentimos – ainda que, de quando em vez, haja lugar a inusitados pressentimentos –, embora ela possa estar bem junto de nós. Por outro lado, acreditar que o amor é visível é um pensamento lírico. O amor existe nas nossas vidas, sob diversas formas, com diferentes intensidades, assumindo sempre a invisibilidade necessária para não se tornar material.
E é por isso que o amor vence sempre, mesmo quando a morte é o opositor a enfrentar.
Quando, um dia, percebermos o sentido da vida (se esse dia chegar), poderá ser tarde de mais. No entanto, não terá sido em vão.
Não nos esqueçamos que "A finitude é o destino de tudo. O Sol, um dia, apagar-se-á" (o escritor tinha razão).
Não vamos esquecer o amor, pois a morte não se esquecerá de nós.
segunda-feira, 23 de janeiro de 2012
Ámen
Há muito que ela não olhava o céu. Admirava-o, com complacência, como se da primeira vez se tratasse. Pensava, para si mesma, que se fosse possível personificá-lo, este seria, muito provavelmente, o maior sábio de todos os tempos. Uma enciclopédia viva da história humana, capaz de revelar os mais ínfimos pormenores da nossa evolução, da nossa história passada e presente.
Nesse instante, após descer à terra, porquanto os seus pensamentos já nas nuvens vagueavam, ocorreu-lhe que o céu, para muitos, continua a ser considerado a morada de deus. E o que para muitos é uma crença, para outros tantos não passa de uma simples falácia.
Uma falácia, não por ser sua intenção desacreditar a existência de deus, mas simplesmente porque este não pode morar num local donde se podem observar guerras constantes, atrocidades várias, crueldades desmedidas.
Quem ali vive, terá que viver, forçosamente, em permanente exasperação. Porque, muito honestamente, a ela custa-lhe imaginar um deus sentado numa nuvem, impávido e sereno, enquanto milhões dos seus filhos (deus nosso pai, não é verdade?) se matam e passam fome.
Ela há de descobrir onde moras, deus nosso senhor. E, nesse dia, quem sabe se tu próprio não cairás em tentação.
Nesse instante, após descer à terra, porquanto os seus pensamentos já nas nuvens vagueavam, ocorreu-lhe que o céu, para muitos, continua a ser considerado a morada de deus. E o que para muitos é uma crença, para outros tantos não passa de uma simples falácia.
Uma falácia, não por ser sua intenção desacreditar a existência de deus, mas simplesmente porque este não pode morar num local donde se podem observar guerras constantes, atrocidades várias, crueldades desmedidas.
Quem ali vive, terá que viver, forçosamente, em permanente exasperação. Porque, muito honestamente, a ela custa-lhe imaginar um deus sentado numa nuvem, impávido e sereno, enquanto milhões dos seus filhos (deus nosso pai, não é verdade?) se matam e passam fome.
Ela há de descobrir onde moras, deus nosso senhor. E, nesse dia, quem sabe se tu próprio não cairás em tentação.
terça-feira, 17 de janeiro de 2012
A alegoria que nunca o foi
Nasceu sozinho. Teve frio e chorou. Por pouco tempo, no entanto, pois depressa o calor materno o aconchegou.
Daí a nada, deu três passos e caiu. Nasceu com pressa de crescer. Ria, ainda sem dentes, de mãos coladas no chão. Levantou-se e olhou em frente.
Ao longo da vida, perdemos a conta às pequenas batalhas que vamos travando com aquilo que nos rodeia. Ideias que nos abalam, convicções derreadas, caminhos trocados que nos deixam aturdidos.
Desconhecidos, família, amigos, amores e desamores. Todos eles, sem exceção, com maior ou menor relevância, contribuem para a definição de nós mesmos. Mas existirá, ainda assim, uma fórmula que defina quem somos?
Olhou em frente. Viu o mar e chorou. Teve frio. Desta vez, por um tempo talvez eterno. Lançou-se à água, nadou sem parar. Agarrou-a por um braço, trazendo-a consigo até terra.
Abraçou-a com força, por um tempo talvez efémero. Levantou-se. Daí a nada, deu três passos e caiu.
Não mais se ergueu.
Se não te deixares guiar pela sensibilidade que existe dentro de ti, a vida não será mais que uma ilusão paradoxal, uma alegoria que nunca o foi.
Daí a nada, deu três passos e caiu. Nasceu com pressa de crescer. Ria, ainda sem dentes, de mãos coladas no chão. Levantou-se e olhou em frente.
Ao longo da vida, perdemos a conta às pequenas batalhas que vamos travando com aquilo que nos rodeia. Ideias que nos abalam, convicções derreadas, caminhos trocados que nos deixam aturdidos.
Desconhecidos, família, amigos, amores e desamores. Todos eles, sem exceção, com maior ou menor relevância, contribuem para a definição de nós mesmos. Mas existirá, ainda assim, uma fórmula que defina quem somos?
Olhou em frente. Viu o mar e chorou. Teve frio. Desta vez, por um tempo talvez eterno. Lançou-se à água, nadou sem parar. Agarrou-a por um braço, trazendo-a consigo até terra.
Abraçou-a com força, por um tempo talvez efémero. Levantou-se. Daí a nada, deu três passos e caiu.
Não mais se ergueu.
Se não te deixares guiar pela sensibilidade que existe dentro de ti, a vida não será mais que uma ilusão paradoxal, uma alegoria que nunca o foi.
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