segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Ámen

Há muito que ela não olhava o céu. Admirava-o, com complacência, como se da primeira vez se tratasse. Pensava, para si mesma, que se fosse possível personificá-lo, este seria, muito provavelmente, o maior sábio de todos os tempos. Uma enciclopédia viva da história humana, capaz de revelar os mais ínfimos pormenores da nossa evolução, da nossa história passada e presente.

Nesse instante, após descer à terra, porquanto os seus pensamentos já nas nuvens vagueavam, ocorreu-lhe que o céu, para muitos, continua a ser considerado a morada de deus. E o que para muitos é uma crença, para outros tantos não passa de uma simples falácia.

Uma falácia, não por ser sua intenção desacreditar a existência de deus, mas simplesmente porque este não pode morar num local donde se podem observar guerras constantes, atrocidades várias, crueldades desmedidas.

Quem ali vive, terá que viver, forçosamente, em permanente exasperação. Porque, muito honestamente, a ela custa-lhe imaginar um deus sentado numa nuvem, impávido e sereno, enquanto milhões dos seus filhos (deus nosso pai, não é verdade?) se matam e passam fome.

Ela há de descobrir onde moras, deus nosso senhor. E, nesse dia, quem sabe se tu próprio não cairás em tentação.


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