terça-feira, 17 de janeiro de 2012

A alegoria que nunca o foi

Nasceu sozinho. Teve frio e chorou. Por pouco tempo, no entanto, pois depressa o calor materno o aconchegou.

Daí a nada, deu três passos e caiu. Nasceu com pressa de crescer. Ria, ainda sem dentes, de mãos coladas no chão. Levantou-se e olhou em frente.

Ao longo da vida, perdemos a conta às pequenas batalhas que vamos travando com aquilo que nos rodeia. Ideias que nos abalam, convicções derreadas, caminhos trocados que nos deixam aturdidos. 

Desconhecidos, família, amigos, amores e desamores. Todos eles, sem exceção, com maior ou menor relevância, contribuem para a definição de nós mesmos. Mas existirá, ainda assim, uma fórmula que defina quem somos?

Olhou em frente. Viu o mar e chorou. Teve frio. Desta vez, por um tempo talvez eterno. Lançou-se à água, nadou sem parar. Agarrou-a por um braço, trazendo-a consigo até terra.

Abraçou-a com força, por um tempo talvez efémero. Levantou-se. Daí a nada, deu três passos e caiu.

Não mais se ergueu.

Se não te deixares guiar pela sensibilidade que existe dentro de ti, a vida não será mais que uma ilusão paradoxal, uma alegoria que nunca o foi.


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