terça-feira, 26 de junho de 2012

Um caminho, um instante

Sónia Guerreiro
Esperou por ele um instante. Um número infinito de instantes, talvez. Esperou o tempo suficiente para que o mundo nascesse duas vezes, e ainda assim lhe pareceu apenas um momento. Esperou, enquanto o mundo envelhecia, enquanto as estrelas brilhavam entre si, enquanto os universos se expandiam e contraíam.

Esperou, enquanto a lua embalava as noites e o sol amornava os dias. Esperou, sabendo que ele não mais voltaria, sabendo que a espera seria vã, como se esperasse o passado no futuro, ou o futuro no passado.

Esperou, alimentando a esperança que em si existia, com recordações que foi esquecendo. Porque a memória é traiçoeira, se o é.

Esperou, até se sentir exausta, como se acabasse de nascer e o ar lhe faltasse para poder chorar.

A espera foi madrasta para os sonhos que habitavam em si.

Ele quis reencontrar-te, eu sei que sim. Mas o caminho, o caminho já não tinha o mesmo chão...


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