terça-feira, 6 de novembro de 2012

Quase

Recostado na sua cadeira de baloiço, naquele alpendre feito de madeira comida pelo sol dia após dia, as pernas cruzadas com os pés apoiados no parapeito, o olhar cravado no infinito.

A temperatura amena que se fazia sentir aquecia-lhe o espírito com alguma relutância. O pensamento vagueava ora cá, ora lá, vezes sem conta pregado às lembranças que ainda tinha dela.

O sol acabou de nascer, e com ele a natureza que se espreguiça uma vez mais para um longo dia de verão. O calor ganha força e os pensamentos vão-se tornando cada vez mais nítidos, com uma fulgência inusitada mas compreensível.

As horas passam. Enquanto isso, o sol percorre o seu caminho até ao topo dos céus, com o intuito de abraçar o mundo inteiro de uma só vez. Os pensamentos fixam-se em ti. Naquilo que poderia ter sido, mas que ficou sempre aquém. Naquilo que esteve perto, mas simultaneamente tão longe. Naquilo que se sonhou, mas que nunca saiu do papel.

Ele levanta-se, deixando atrás de si a cadeira a baloiçar vagarosamente. Quem se levanta, também, é o vento, formando umas quantas nuvens de poeira dourada no ar.

Caminhando na direção do horizonte, ele deixa para trás o sol e tudo o que lhe ocupava a mente, ali naquele alpendre plantado numa imensa planície.

Caminhando na direção do horizonte, ele vai deixando cair uma mão cheia de sementes que consigo trazia, ali naquela terra ressequida pelo calor.

O que ficará por nascer, não sabemos... deixemos o coração terminar a história.


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