Ela agarrou-se às palavras soltas que viajavam no tempo, a uma velocidade bem superior à da luz. Palavras intemporais, que perpetuavam um ilusório sentimento de existência.
Levantou-se, por entre alguns suores frios que a haviam atormentado nos últimos instantes, e caminhou até à janela.
A lua não estava presente. De facto, pouco importava. A noite estava escura como breu, o vento soprava à força de pulso (divino, quem sabe?).
Os espíritos, em turba, passeavam sem destino naquela noite fria, quais figuras erráticas à procura do seu lugar.
Perante aquele cenário, ela sorriu, ao mesmo tempo que acendeu um cigarro. Receosa de voltar a adormecer e de não mais voltar a acordar, ali se deixou permanecer, cigarro após cigarro.
Viu o sol e a lua jogarem ao esconde-esconde durante dias e noites a fio, num ciclo que se tornou, impetuosamente, vicioso.
Viu nascer as últimas flores, viu os rios e o mar secarem, viu a neve cair incessantemente, derreter e ser devorada pelo inferno sob os seus pés.
Viu o mundo reduzir-se a pó, sem nunca o ter desejado.
E agora? Agora, que a ampulheta da sua vida perdeu a areia que lhe restava, nada mais há a fazer.
Ela apaga o último cigarro, piscando o olho ao sono que lhe trará descanso...
Tiquetaque. O tempo chegou ao fim.
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