sexta-feira, 4 de maio de 2012

O monstro

daqui.
Abres a porta de casa, lentamente. Deste conta, ainda do lado de dentro, que ali passava um vento corrosivo, um vento que te injuriava, que te lançava blasfémias de todo o tipo, a toda a voz.

Ficaste, quiçá, estupefacto, ou talvez não. Num ímpeto de indisfarçada raiva, levantaste a tua perna direita no ar, até esta perfazer um ângulo de noventa graus com a coxa. No mesmo instante, e com uma violência sobre-humana, lançaste o teu pé ao solo, na esperança de reprimir as palavras que se faziam ouvir.

O mundo estremeceu. O vento não mais se pronunciou.

O clima que se vive é absolutamente singular. As aves que ali se encontravam, nas redondezas, todas elas voaram para bem longe. Desces os três degraus do alpendre para o jardim, sob o olhar atento de um silêncio que nunca, alguma vez, se fez sentir naquele local.

Inspiras, com a indelicadeza que te é característica, o ar inerte que te sufoca. Inspiras com violência, não te sentisses tu o ser mais irascível à face da Terra.

Olhas ao teu redor, o mundo parece acabado. Pesaroso, avanças pela rua fora, sem qualquer pensamento sobre o destino que almejas.

Cospes para o chão, à medida que a estrada ganha uma infinitude quimérica. Sentes-te prisioneiro de um mundo que não é teu, e que ao mesmo tempo procuras destruir.

Tu és o monstro que habita em mim.


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