De cada vez que ouço (ou leio) alguém dizer algo como "só me arrependo do que não faço", uma nuvem de interrogações paira, de imediato, sobre a minha cabeça.
É verdade que serei suspeito, pelo facto de não ser, propriamente, um fã de máximas. Ainda assim, uma máxima carregada de tanta arrogância, presunção e pretensiosismo na sua essência, naturalmente que nunca se encaixaria na minha caixinha das denominadas "frases feitas".
Para agravar ainda mais o cenário da "bela" máxima, atendamos à origem e significado de "arrependimento":
Do grego μεταμέλεια - Metanóia (Meta=Mudança, Nóia=Mente), arrependimento significa "Mudança de Mentalidade".
Quer isto dizer, então, que eu apenas admito mudar de mentalidade, relativamente àquilo que não fiz? Mais uma nuvem de interrogações...
Posto isto, se alguém me conseguir demonstrar que o aparente antagonismo de uma frase como "só me arrependo do que não faço" é simplesmente má interpretação da minha parte, cá estarei para me arrepender...
... do que (não) escrevi.
"O remorso é uma impotência, ele voltará a cometer o mesmo pecado. Apenas o arrependimento é uma força que põe termo a tudo.", Honoré de Balzac.
Se arrependimento significa "mudança de mentalidade", então quem diz que só se arrepende do que não fez, está a mudar de mentalidade no presente ao reflectir sobre o passado. Eu não me arrependo das coisas que fiz, mesmo as que me originaram maus momentos ou sofrimento, porque naquele instante era o que fazia sentido, para mim, dizer/fazer. No entanto, arrependo-me dos momentos em que me senti pior porque deveria ter agido de uma outra maneira. Arrependo-me, portanto, da coragem/perspicácia que não tive em certos momentos para agir de outra forma, de forma a que o desenlace dos acontecimentos fosse diferente.
ResponderEliminar...então, "faço" sentido? :)