domingo, 14 de outubro de 2012

Aqueles de quem gostamos

Sónia Guerreiro
Quando ela partiu, era Inverno. Fazia sentir-se um nevoeiro denso, incrivelmente frio, que caminhava por entre nós com um semblante abatido e carregado. Estranhamente, não corria uma aragem, num dia marcado pelo fim de muitos paradigmas.

Ela não escolheu partir. Ele não escolheu perdê-la. Dentro de si, porém, ela continua a existir, da mesma forma como sempre existiu. Com o mesmo sorriso, feliz, com o mesmo olhar, doce, com o mesmo amor que tinha por ele, eterno.

Acusam o homem de ser avesso à mudança, de lhe resistir obstinadamente. A cruel verdade é que, quando alguém parte, o mundo continua o mesmo (e o homem também). O sol continua a nascer todos os dias, umas vezes com mais energia, outras nem tanto. A natureza segue o seu caminho programado, surpreendendo apenas quem desconhece a sua magnitude. A lua continua a ser dona da sua vontade, surgindo e desaparecendo quando mais lhe convém.

A razão dirá ao coração para chorar, pois só assim fará sentido aceitar o adeus. Mas ele apenas irá chorar até ao momento em que perceber que ela não partiu, que não a perdeu.

Aqueles de quem gostamos nunca deixarão de estar connosco. Existem em nós, por um tempo eterno, bem junto do nosso coração.


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