
Papel rasurado, papel rasgado, papel deitado fora.
Ali se encontrava ele, ébrio pelos seus próprios sonhos, aqueles que passavam por si à velocidade da luz, alguns deles infrenes, outros tantos amenos, a maior parte de distinta beleza.
A bolha de oxigénio era imensurável, flutuando ao sabor da inexistente gravidade. Dentro dela, ele flutuava, igualmente, sem sequer se dar conta da levitação de que o seu corpo era capaz.
Os pensamentos surgiam, com a mesma rapidez que o abandonavam. Claudicava, sempre, assim que relia o que acabara de escrever.
Em certo momento, um dos seus sonhos atinge em cheio a cápsula onde este se encontrava, deixando escapar - para o vazio - todo o oxigénio que aquela continha. O nosso adónis, enchendo o peito de ar, mergulha no indómito sonho que se cruzara no seu caminho e, ainda que insone, avança diretamente para o seu âmago, sem nunca olhar para trás.
Reencontra, então, o seu onírico coração, há muito perdido. Consumada a descoberta, volta a si no mesmo instante.
Estás ali, a seu lado, aninhada junto ao seu coração. O local? Desconheço... diria que uma folha de papel.
Sonho raro, este.