
Levantas-te bem cedo, quando o Sol ainda está longe de nascer. Não tens mais que quatro aninhos, a pele queimada pelo astro imperador.
Pões-te a caminho com os teus irmãos, numa jornada repetida dia após dia, onde os sonhos perdem força e o destino tem medo de sorrir.
São cerca de vinte quilómetros a distância que te separa do teu quotidiano. Sob um calor que não teme mostrar a sua força, que não dá tréguas, caminhas pela areia fina do deserto até à barraca que te servirá de abrigo.
Quando me vês, corres até mim com o intuito de me venderes os teus fios feitos à mão. Fico encantado com a beleza dos mesmos, cada um deles carregando uma pequena pedra em forma de coração. Os fios parecem ganhar vida nas tuas pequeninas mãos, com as pedras a reluzirem o esplendor da luz solar. O relógio marca as onze horas da manhã, quando o calor já se torna insuportável no deserto do Saara.
Não hesito um segundo em retirar o dinheiro para te comprar meia dúzia de fios. Pois é num gesto quase mecânico que levas a mão direita ao bolso das tuas calças, e de lá retiras o troco certo para me dares. “Fica com ele”, digo-te espontaneamente. Vejo os teus olhos verdes refulgirem uma última vez, ao mesmo tempo que viras costas e corres para o próximo turista.
Foi na Tunísia que te conheci, menino de palmo e meio.