sábado, 10 de outubro de 2009
deus
Eram três horas da manhã. Abri os olhos e olhei o tecto e levantei-Me e calcei os chinelos e dirigi-Me à varanda.
Lá chegado, encontrei deus sentado na Minha poltrona, disposta num dos cantos do eirado.
Contemplava o céu estrelado, certamente absorto nuns quaisquer pensamentos. Não era o deus que Eu imaginava. Estranhamente, apesar de se encontrar sentado, afigurava-se mais pequeno que Eu.
Começando a sentir-Me incomodado com o silêncio do momento, ganhei coragem e decidi questioná-lo:
“Deus Meu, em que pensas tu?”
“Sabes…”, disse-Me, “estou cansado de ser o ser supremo, o todo-o-poderoso, o senhor do universo, o maior existente, a figura divina máxima. Estou cansado de ser a fonte de toda a obrigação moral, de ser o responsável pela vida e pela morte, pela felicidade e pela tristeza.”
“Mas… que queres dizer com isso, deus Meu?”
“O que quero dizer é que, de ora em diante, serás Tu a ocupar o meu lugar.”
“O teu lugar? Como assim? Se te referes à poltrona, considera-la tua! Não mais preciso dela. Aliás, nem sequer Me sinto digno de Me voltar a sentar nela.”
E deus sorriu.
“Não, não quero a Tua poltrona. Continua a ser Tua, como o sempre foi.”, reforçou. “Chegou o dia de renunciar ao meu estatuto de divindade. Chegou o dia de abraçares esta nova etapa, com a mesma paixão com que tens abraçado a Tua vida. Não receies, não temas, apenas desfruta”.
E, ao mesmo tempo que estas últimas palavras são proferidas, é então que Me sinto… Deus.
Eram três horas da manhã. O deus pequeno levanta-se e abraça-Me e caminha para o Meu quarto e deita-se e fecha os olhos.
Sento-Me na poltrona. Olho o céu estrelado, e perco-Me nos Meus pensamentos.
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