sábado, 31 de outubro de 2009

Cara ou coroa?


“E porque não escrever sobre lágrimas?”, pensou ele. Haviam decorrido quatro dias desde a primeira queda vertiginosa ao solo. Desde então, as lágrimas não mais tinham parado de percorrer o seu único trajecto conhecido: o da gravidade.

A tarefa afigurava-se impraticável. Com os olhos inchados de tanto lacrimejar, a escrita virava costas ao escritor. Lágrima atrás de lágrima, borrão atrás de borrão, o nosso herói abandona o papel gatafunhado e lança uma moeda ao ar: cara ou coroa?

Pouco importa, pois darás por ti a ludibriar o resultado, ordenando a consciência a acreditar que aquele era o resultado pretendido.

Polegar flectido por baixo do indicador, a catapulta sempre funciona, qual fundíbulo de carne e osso. A moeda voa formando uma parábola, cujos eixos quase se tocam.

A piscina formada pelas lágrimas aguarda pelo impacto, o tempo abranda. A moeda rompe a película superficial, avança até ao fundo, e…

…cara ou coroa? A dita logrou-te as expectativas. Moeda ao ar não cai de pé… mas desta vez, caiu.


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