terça-feira, 27 de novembro de 2012

Assim é...

Francisco Miguel Sousa.
Eles fugiram, porque era esse o seu destino, porque tantas foram as correrias sonhadas noite após noite, que algum dia haveria de ser o dia de partir, com as malas por fazer deixadas para trás, com a roupa que traziam no corpo, apenas e só, com o sangue a correr nas veias e a fervilhar sentimentos, com sorrisos nos lábios que não podiam esconder, com o sol perplexo a queimar-lhes a pele, com a chuva abençoada que decidiu dar o ar de sua graça, com os cães que ladram à sua passagem, com as mãos dadas numa corrida aparentemente sem fim, com risos que se convertem em momentos eternos, com palavras doces sussurradas ao ouvido, com um arco-íris que não esconde cores, com gritos de êxtase sem receio à vista, com o horizonte cada vez mais perto, com estrelas no céu que brilham pela primeira vez, com a noite que cai sem escuridão...

... assim é o amor.


segunda-feira, 19 de novembro de 2012

El Mundo de los Sueños



En el Mundo de los Sueños, donde todo es posible, tu y yo no conocemos la tristeza.

Cuando estamos juntos, ordenamos que se pare el tiempo. Suspendida en el aire, la arena que cae dentro del reloj de arena supera la gravedad. El tiempo se detiene.

La felicidad es nuestro estado de gracia, y nuestros rostros no conocen mas que la sonrisa del otro.

Todos los días nos despertamos con el canto de los pájaros, con el aroma primaveral de las flores.

Los días se pasan en una agitación apasionada, con viajes por los sueños más bellos que somos capaces de soñar.

Nos sumergimos en las aguas cálidas de las playas más impresionantes jamás imaginadas, volamos sobre paisajes que ni siquiera Dios podría crear.

Nos contemplamos a la hora de dormir, abrazados, dejando nuestros espíritus libres para que se amen.

Cuando cae la noche, llamamos a nuestro mundo la luz de las estrellas, que nos vela el sueño con un brillo especial y fascinante.

Con los ojos cerrados, puedo sentir tu aire de niña traviesa tocando mi corazón, con el mismo encanto que caracteriza nuestra pasión.

Sentados, ahora, en la cima del Mundo de los Sueños, vemos nacer el sol como si fuera la primera vez, cuyos rayos dan brillo a tu cabello largo y rubio.

Tomados de la mano, miramos, juntos, el cielo.

Este mundo es sólo nuestro.


quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Falso moralista

Um falso moralista não é mais que alguém (bem) mascarado a tempo inteiro. E já que falamos em máscaras, confesso-vos que nunca me deslumbrei pelo carnaval. O entrudo, contrariamente à maior parte dos acontecimentos festivos, prolonga-se durante três dias consecutivos por ano, período de tempo que, ainda assim, poderá ser considerado tolerável.

Ora, há quem goste de se mascarar de super-homem, de palhaço, de Calimero ou até mesmo de Abelha Maia. Também há quem goste de usar máscaras, nove meses depois do carnaval, simplesmente para esconder rostos hediondos e poder arremessar pedras contra quem garante a segurança interna e os direitos dos cidadãos (não, curiosamente não me refiro aos políticos).

Eu, por exemplo, já sei do que me vou mascarar no próximo carnaval. Irei vestir a pele de falso moralista. Em que consiste a máscara? Ainda não estou certo, mas tenho tirado bastantes apontamentos...


segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Descida ao Inferno

Quando lá cheguei, já era noite. Para meu enorme espanto, o Inferno em chamas que esperava encontrar, não o era. O calor que nos cresta a pele, que nos incinera o espírito e nos inflama a mente, não habitava aquele local de coração aberto e céu estrelado.

O único som que se fazia ouvir era o respirar da noite, cadenciado, harmonioso. Havia árvores, muitas, de pequeno e médio porte, cuja ramagem vibrava à passagem do vento sem que ao ouvido se fizesse sentir.

Espreitei o relógio de pulso que trazia comigo. Os ponteiros eram como que adereços vítimas de uma inusitada inércia, marcando um tempo incerto num local pouco dado ao tempo.

Espelhos. Havia-os por todo o lado, com mil olhos perscrutadores que vigiavam os meus passos, com mil olhos inquisidores que rebuscavam a minha mente. À passagem por cada um, o reflexo mantinha-se fiel ao anterior e não lograva as minhas expectativas. Era o diabo que eu via refletido em cada espelho, não estivesse eu no Inferno.

Perdido o norte, dei comigo a caminhar em círculos. Receoso de não ver cumprida a missão que me levara ao lugar dos demónios, encontrei-me entorpecido por todos os medos que em mim existiam.

Mas o diabo, qual bom samaritano capaz de surpreender o mais descrente, tomou a liberdade de afugentar tais temores, num ato divino de redenção.

Sentindo-me revitalizado, fui ao teu encontro seguindo um caminho que não estava destinado, contrariando, ferozmente, o que estava escrito nas estrelas.

Encontrei-te aninhada junto ao sopé de uma árvore envelhecida por um tempo que teima em não passar.

Abracei-te, levei-te comigo. Para bem longe do Inferno.


terça-feira, 6 de novembro de 2012

Quase

Recostado na sua cadeira de baloiço, naquele alpendre feito de madeira comida pelo sol dia após dia, as pernas cruzadas com os pés apoiados no parapeito, o olhar cravado no infinito.

A temperatura amena que se fazia sentir aquecia-lhe o espírito com alguma relutância. O pensamento vagueava ora cá, ora lá, vezes sem conta pregado às lembranças que ainda tinha dela.

O sol acabou de nascer, e com ele a natureza que se espreguiça uma vez mais para um longo dia de verão. O calor ganha força e os pensamentos vão-se tornando cada vez mais nítidos, com uma fulgência inusitada mas compreensível.

As horas passam. Enquanto isso, o sol percorre o seu caminho até ao topo dos céus, com o intuito de abraçar o mundo inteiro de uma só vez. Os pensamentos fixam-se em ti. Naquilo que poderia ter sido, mas que ficou sempre aquém. Naquilo que esteve perto, mas simultaneamente tão longe. Naquilo que se sonhou, mas que nunca saiu do papel.

Ele levanta-se, deixando atrás de si a cadeira a baloiçar vagarosamente. Quem se levanta, também, é o vento, formando umas quantas nuvens de poeira dourada no ar.

Caminhando na direção do horizonte, ele deixa para trás o sol e tudo o que lhe ocupava a mente, ali naquele alpendre plantado numa imensa planície.

Caminhando na direção do horizonte, ele vai deixando cair uma mão cheia de sementes que consigo trazia, ali naquela terra ressequida pelo calor.

O que ficará por nascer, não sabemos... deixemos o coração terminar a história.


sábado, 3 de novembro de 2012

O nosso sorriso

daqui.
Quando a procura incessante não revela resultados, isso não significa que não tenha valido a pena. O esforço, dedicação e empenho que se revelem vãos, não são mais que doses de adrenalina para um coração que procura manter-se fraco, estímulos para não se desistir perante as mais banais adversidades.

Quando dois olhares se cruzam e não veem o mesmo destino, quando dois corpos se juntam e não sentem o mesmo mundo, isso não significa que o caminho que escolhemos não tenha sido bem traçado.

Os caminhos são mutáveis, por vezes com abismos pelo meio, tantas vezes atravessados por quem nos dá a mão para não cairmos, outras tantas por quem apenas nos procura puxar para um qualquer pélago.

No entanto, de uma coisa poderemos estar certos: se o nosso sorriso não revela quem realmente somos, então o caminho que percorremos não nos levará a lado algum.


quinta-feira, 1 de novembro de 2012

O fim anunciado

Quando o vento te escapa por entre as mãos, quando este te sussurra ao ouvido palavras que não queres ouvir, o teu ser fugidio procura abrigo no meu coração.

Sempre que o destino se afigura perto, sempre que o amor dança dentro de nós como se o mundo fosse renascer, o teu ser fugidio foge para bem longe, onde o tempo e o espaço não mais existem.

Amanhã, quando a meio de um sonho a realidade e a magia se fundirem numa amálgama de sentimentos e sensações difíceis de compreender, quando procurares despertar e o teu corpo inerte não responder, irás chamar pelo meu nome.

Quando o amanhã chegar, quando eu estiver bem perto de ti mas o meu coração estiver onde o tempo e o espaço não mais existem, quando eu procurar despertar-te e me faltarem as forças, o sol terá nascido com a mesma energia, a chuva cairá com a mesma cadência, o mar guardará os mesmos segredos.

Nesse momento, o fim anunciado marcará o princípio de uma nova era.