Sónia Guerreiro |
Perfeito, só mesmo o nosso querido deus, que – ainda assim – se tramou quando quis brincar ao "vamos-ver-quem-é-o-primeiro-a-dar-a-dentada-no-fruto" (herege? Não sou perfeito, certo?).
Posto isto, é inequivocamente desnecessário – eufemismo para "estúpido" – invetivar (ainda que de forma muito subtil e harmoniosa) e censurar os outros, por "aqueles" defeitos que não somos capazes de reconhecer em nós próprios (mas que existem, e que nos conferem aquele sorriso e olhar especiais quando a cólera se incendeia dentro de nós).
Pureza intacta não existe (existiu, sim, antes da "dentada"), por isso seremos bem mais felizes se nos conformarmos com algumas das coisas que nos vão surgindo ao longo da vida, ao invés de andarmos de braços no ar com um placar a expor os ditos defeitos, qual menina sorridente num ringue de boxe.
Em suma, não fará sentido procurarmos uma desacreditação de nós mesmos de uma forma tão gratuita e, diria, irrefletida, pois essa será, certamente, a via mais fácil de nos tornarmos vítimas da nossa própria armadilha.