segunda-feira, 28 de março de 2011

A mensagem


"Quando os viu, enfim, abraçados, Deus aplaudiu a tenacidade que se respirava no ar". Mas já lá vamos...

Estávamos no Verão. Viviam-se dias de pura felicidade, com calor na medida certa. Ela encontrava-se sozinha em casa, a contar os minutos para sair à rua. Vestiu o melhor vestido que tinha no seu guarda-roupa e soltou os seus longos cabelos morenos. Por fim, agarrou no seu batom preferido e pintou os lábios.

Por esta altura, ele já se encontra a caminho. O percurso que ainda tem pela frente é longo, mas isso pouco importa. Traz dentro de si a leveza de quem ama a vida, a inocência de quem nada teme.

Combinaram encontrar-se num farol de terra, local bem conhecido dos dois. Situava-se num dos pontos mais altos daquela pequena e tranquila cidade costeira, com vista para o outro lado do oceano.

Quando o relógio dela avisou ter chegado o momento para sair de casa, quando o Sol não estava longe de se pôr, o mundo desabou sobre aquela simpática localidade. O céu rapidamente se pintou de negro, tal era o número de nuvens tempestuosas. No instante seguinte, choveram do céu raios e trovões aos milhares, dando lugar ao espectáculo mais insólito que alguma vez aquele local havia presenciado. A chuva começou a cair impetuosamente, deixando no ar um aroma a dilúvio.

À porta de casa, ela olha o céu e inspira bem fundo. Sai a correr, com um sorriso bem rasgado nos lábios. Pelo caminho, em direcção ao farol, acaba por deixar para trás o calçado que trazia, correndo descalça e sentindo no corpo a chuva quente que, obstinadamente, não cessava. Desde que saíu de casa, não passaram, seguramente, mais que dez minutos até que alcançasse a imponente construção. Subiu as escadas com vigor, aproximando-se, em seguida, do enorme foco luminoso, assegurando-se que a cobertura que anteriormente ali havia colocado estava nas melhores condições. E assim era.

Sofrendo na pele, igualmente, a inusitada tempestade, ele procura - a todo o custo - vencer a distância que ainda o separa do farol.

No momento em que o dia, finalmente, dá lugar à noite, ela liga o potente projector de luz. No céu, sob o olhar atento de Deus, lê-se, projectada, uma mensagem que servirá de inspiração ao que resta do caminho que ele ainda tem para percorrer.

Uma vez alcançado o farol, após uma corrida que parecia não ter fim, ela corre para os seus braços.

Quando os viu, enfim, abraçados, Deus aplaudiu a tenacidade que se respirava no ar.

Ele olha o céu e pisca-Lhe o olho. Nos seus olhos brilha, reflectida, a mensagem representada no firmamento: "Até que a morte nos separe!".


sábado, 19 de março de 2011

A Lua


Todas as noites da sua vida, recuando até ao passado distante que a memória lhe permite recordar, a menina, hoje mulher, ía à janela contemplar a Lua.
As noites de Lua Nova, fenómeno que, durante muito tempo, se revestiu de enorme mistério para si, sempre foram as noites que mais lhe custaram a passar. Em todas as outras, as quais, para seu grande júbilo, preenchiam a maior parte do calendário, a menina despendia largos minutos a pedir conselhos, bem como alguns desejos, ao mais bonito dos astros satélite do nosso vasto sistema solar.
Apesar de nunca ter tido forma de o demonstrar, foi crescendo, no coração da Lua, um enorme sentimento de compaixão e amizade pela menina que, todas as noites, procurava junto de si um pouco de companhia.
Os anos foram passando, à medida que, sob o olhar atento da Lua, os sonhos da menina íam amadurecendo. Há muito que a Lua tinha conhecimento do seu sonho mais bonito, aquele em que esta conhecia o seu grande amor.
No dia em que a menina concretizou o seu sonho, a Lua não conseguiu conter a sua felicidade, tendo, na noite imediata, adquirido um tamanho admiravelmente encantador, combinado com uma tonalidade alaranjada apenas observável em momentos especiais como este: estava verdadeiramente feliz.
Pois aproveitemos hoje, a noite, para pedirmos à Lua os nossos desejos mais belos... ela está à nossa espera!


domingo, 13 de março de 2011

A vida é uma viagem



A vida é uma viagem. O senso comum já nos ensinou isso mesmo, que a vida é uma viagem no tempo. Mas desenganem-se aqueles que, ao julgarem as suas vidas estagnadas, inertes, imaginam que a viagem se encontra nas mesmas condições. A vida é uma viagem sem paragens. Aliás, permitam-me a correcção: a vida é uma viagem com uma única paragem. Mas essa espera-nos a todos.
Ao longo do espaço, a Terra desloca-se em torno do Sol. Desloca-se a uma velocidade aproximada de cem mil quilómetros por hora. Mas quando o ano termina, a Terra não voltou ao ponto de origem. E porquê? Porque a Terra não é o único astro em movimento. O próprio Sol desloca-se dentro da nossa Galáxia, que por sua vez também se desloca pelo Universo fora. Estima-se que a nossa Galáxia, a Via Láctea, se desloque a uma velocidade aproximada de dois milhões de quilómetros por hora.
Com estes dados científicos presentes na nossa mente, será difícil imaginar a vida como um processo estático no nosso mundo, em que após um momento a que damos o nome de nascimento, apenas nos poderá esperar um momento denominado fim (perdoem-me o medíocre eufemismo).
A viagem mais bonita que poderemos, então, realizar na nossa vida, será mesmo a viagem para a qual não precisamos de bilhete, nem tão-pouco de bagagem ou das férias que a permitam. E é por isso mesmo que a vida deverá ser sempre encarada com um sorriso. É por isso que a vida é muito mais bela quando gostamos de nós próprios, quando damos valor aos que gostam de nós, quando temos alguém que nos ama e a quem amamos de igual forma. Qualquer viagem poderá ter os seus contratempos, os seus percalços, os seus obstáculos. A vida não será, nunca, uma excepção. Mas com um sentimento de perseverança, qualquer dificuldade será agradavelmente ultrapassada.
Coloquem de parte quaisquer vaidades ou pretensões próprias de quem se julga capaz de carregar sozinho o mundo às costas, pois essa não será uma tarefa simples. Em sentido oposto, procurem sempre no amor a força e o encanto que poderá tornar a vossa viagem a mais perfeita de todas!


quinta-feira, 10 de março de 2011

De mãos dadas


Todos os dias, quando acordava, ele sentia a sua presença. Sentia o seu perfume, sentia os seus leves e inaudíveis passos. Imaginava-a assombrosamente bela, esperando que a memória nunca o traísse. Podia jurar que, por vezes, via a sombra dela reflectida ao lado da sua. Não mais que isso, apenas a sua sombra...
Todos os dias, ela tinha a oportunidade de o ver acordar. Seguia os seus passos, cuidadosamente, deixando o seu perfume a pairar por onde passava. Por vezes, por breves instantes, contemplava a sua própria beleza num qualquer espelho. Era apaixonada pela sombra dele, não o queria ver longe de si...
Quando, ao entardecer, ele decidia ir ver o pôr-do-sol junto ao mar, a sua sombra engrandecia. Nesses momentos, o coração dela gozava de uma felicidade extrema, sempre a seu lado até que o Sol desse lugar a um céu estrelado...
Nos dias de pôr-do-sol junto ao mar, ele regressava a casa, pesarosamente, carregando dentro de si um sentimento inexplicável.
Nesses dias, ao deitar-se, e quando o primeiro sonho se preparava para nascer, já ele dormia profundamente a seu lado, sempre de mãos dadas...


terça-feira, 8 de março de 2011

Quando...



Quando a tua flor é a única a resistir às intempéries, é porque o que sentes é verdadeiro.
Quando o vento não apaga as palavras que escreves na areia, é porque os teus sonhos já fazem parte do nosso mundo.
Quando o teu sorriso é uma constante, é porque a tua vida é uma harmonia de cores.
Quando o teu abraço é capaz de aquecer o coração dos outros, é porque o teu desígnio não fracassou.
Sê feliz!


domingo, 6 de março de 2011

Afrodite, a Deusa do Amor



Saíu cedo de casa, naquele dia que nada tinha de especial, dirigindo-se – de imediato – para o bosque que circundava o local onde vivia. Este bosque, contrariamente a muitos outros que habitam o nosso vasto mundo, não tinha um único rasgo de magia. Apesar das árvores que o constituiam serem já velhas anciãs, algumas com mais de mil anos, o bosque não nos transportava para qualquer realidade diferente daquela que nos apresentava: um número de árvores sem fim. Grandes, pequenas, altas, baixas, com muita ou nenhuma folhagem, havia tantas árvores e tão distintas umas das outras, que o bosque se sentia capaz de desafiar os poderes da criação.
Mas o rapaz, movido pela notória ausência de magia experienciada na enorme floresta, há muito que decidira fazer algo para alterar aquele cenário.
Não era a primeira vez que visitava o ponto central do bosque, local que a maior árvore da floresta havia escolhido para criar raízes. Uma vez lá chegado, pôde constatar que todo o material que anteriormente havia colocado junto à grande árvore, se encontrava imaculadamente intacto: tábuas, cordas, roldanas, pregos e demais ferramentas próprias de carpintaria. Na sua mochila, trazia mantimentos para uns tempos de estadia.
Lançadas mãos à obra, ao fim de três dias encontrava-se realizado o objectivo a que se propusera: construir uma casa a meio da grande árvore, aliçercada pelos robustos ramos que a compunham. A uma altura de cerca de cinquenta metros do solo, a vista sobre o bosque era grandiosa, dada a imponência que a árvore ostentava.
No entanto, o inesperado tomou lugar. De repente, as nuvens cobriram o Sol, e um dilúvio como nunca antes fora visto abateu-se sobre a floresta. Choveu ininterruptamente durante dois dias inteiros, fazendo do rapaz prisioneiro da casa que acabara de construir. Quando, finalmente, as nuvens decidiram dar tréguas, o nível da água tinha atingido os dez metros de altura. E foi nesse preciso momento que o rapaz, que até então desconhecia a sua fobia, se apercebeu do pavor que aquela imensidão de água lhe causava. A hidrofobia havia-lhe sido transmitida pelos seus antepassados ancestrais, algo de que nunca poderá desconfiar.
Voltas e mais voltas deu no diminuto abrigo resultante do seu empenho, ao mesmo tempo que a chuva regressava e regava copiosamente o incomensurável jardim de árvores que era aquele bosque. O medo da água intensificava-se, agora, enquanto que o desespero começava a ganhar força dentro de si, uma vez que os mantimentos que lhe restavam não chegariam para mais que um par de dias de sobrevivência.
Mas foi então que, das águas negras que banhavam o solo da floresta, emergiu a Deusa “nascida-da-espuma”. Afrodite, a Deusa do Amor, voou até junto da casa de madeira, pairando em frente do rapaz. Na companhia de dezenas de pombas brancas, ela surgiu com os seus longos cabelos molhados pela água fria do novo mar, transmitindo ao rapaz uma inusitada segurança. Este contemplava a beleza sobrenatural da Deusa, entretanto hipnotizado pelo seu olhar penetrante.

Afrodite esvoaçou, por breves momentos, em torno do abrigo, fazendo daquele bosque um local extraordinariamente mágico. No instante seguinte, voou até ao rapaz, envolvendo-o nos seus braços e viajando com ele para bem longe. Encontrado um lugar seguro, a Deusa do Amor despediu-se do rapaz com um beijo carregado de sedução, e com a promessa de que um dia se voltariam a encontrar.
Os anos passaram-se. Foi há bem pouco tempo que decidi voltar ao bosque. A grande árvore permanecia igual, com a casa de madeira bem lá no alto. O impulso foi apenas um: subir até ao abrigo, o sítio onde se encontravam guardados os momentos de magia daquele dia já distante.
Seria hipocrisia se dissesse que a minha reacção foi de surpresa ou perplexidade.
Afrodite esperava por mim. E eu fui ao seu encontro.