"Quando os viu, enfim, abraçados, Deus aplaudiu a tenacidade que se respirava no ar". Mas já lá vamos...
Estávamos no Verão. Viviam-se dias de pura felicidade, com calor na medida certa. Ela encontrava-se sozinha em casa, a contar os minutos para sair à rua. Vestiu o melhor vestido que tinha no seu guarda-roupa e soltou os seus longos cabelos morenos. Por fim, agarrou no seu batom preferido e pintou os lábios.
Por esta altura, ele já se encontra a caminho. O percurso que ainda tem pela frente é longo, mas isso pouco importa. Traz dentro de si a leveza de quem ama a vida, a inocência de quem nada teme.
Combinaram encontrar-se num farol de terra, local bem conhecido dos dois. Situava-se num dos pontos mais altos daquela pequena e tranquila cidade costeira, com vista para o outro lado do oceano.
Quando o relógio dela avisou ter chegado o momento para sair de casa, quando o Sol não estava longe de se pôr, o mundo desabou sobre aquela simpática localidade. O céu rapidamente se pintou de negro, tal era o número de nuvens tempestuosas. No instante seguinte, choveram do céu raios e trovões aos milhares, dando lugar ao espectáculo mais insólito que alguma vez aquele local havia presenciado. A chuva começou a cair impetuosamente, deixando no ar um aroma a dilúvio.
À porta de casa, ela olha o céu e inspira bem fundo. Sai a correr, com um sorriso bem rasgado nos lábios. Pelo caminho, em direcção ao farol, acaba por deixar para trás o calçado que trazia, correndo descalça e sentindo no corpo a chuva quente que, obstinadamente, não cessava. Desde que saíu de casa, não passaram, seguramente, mais que dez minutos até que alcançasse a imponente construção. Subiu as escadas com vigor, aproximando-se, em seguida, do enorme foco luminoso, assegurando-se que a cobertura que anteriormente ali havia colocado estava nas melhores condições. E assim era.
Sofrendo na pele, igualmente, a inusitada tempestade, ele procura - a todo o custo - vencer a distância que ainda o separa do farol.
No momento em que o dia, finalmente, dá lugar à noite, ela liga o potente projector de luz. No céu, sob o olhar atento de Deus, lê-se, projectada, uma mensagem que servirá de inspiração ao que resta do caminho que ele ainda tem para percorrer.
Uma vez alcançado o farol, após uma corrida que parecia não ter fim, ela corre para os seus braços.
Quando os viu, enfim, abraçados, Deus aplaudiu a tenacidade que se respirava no ar.
Ele olha o céu e pisca-Lhe o olho. Nos seus olhos brilha, reflectida, a mensagem representada no firmamento: "Até que a morte nos separe!".