terça-feira, 18 de novembro de 2014

Morrer uma última vez

Sónia Guerreiro
Não sabes o que escrever. Sentes-te presa, de mãos e pés atados a uma cadeira de ferro antigo, ferrugento, atirada ao mar com violência e destinada a bater no fundo na tua companhia.

Em momentos de aflição como este, o tempo abranda, enfraquece, perde o seu propósito. Tenta voltar atrás, mas não lhe é permitido.

O oxigénio escasseia. Não chega para dar vida ao sangue que, assustado, procura dar força e algum alento a um coração perdido por entre desilusões inesperadas em momentos de aparente felicidade.

E estás sozinha. Sozinha. Porque de cada vez que morremos, apenas nos temos a nós, a mais ninguém. E não são poucas as vezes que morremos nesta vida.

O mar que te envolve, o mar que te persegue, não é mais que um mar de lágrimas por chorar.

Permite-te morrer uma última vez. A vida que começar amanhã, será a melhor das vidas que já viveste.


Sem comentários:

Enviar um comentário