sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Sonhos, ilusão e um pouco de razão

Sónia Guerreiro
Quando as escadas perdem degraus à tua passagem, quando nas ruas se abrem abismos enquanto caminhas, quando, na tua presença, se fecham caminhos que desde sempre existiram, chegado estará o momento de parar e tudo repensar.

E, acredita, nunca será tarde para refletir. Contrariamente ao que possas pensar, nós não somos aquilo que já fizemos, aquilo que está para trás. Somos, tão-somente, aquilo que temos por fazer, pois não esqueçamos do seguinte: o passado não será nada mais que o caminho percorrido para o futuro.

Permitir que a ilusão entorpeça a razão nunca deixará de ser belo no mundo dos sonhos. Na vida real, a ilusão poderá tornar-se, verdadeiramente, traiçoeira e desleal com o que desejas para ti.

"Nunca desistas dos teus sonhos", é o que nos dizem, tantas e tantas vezes, vezes sem fim. Desistir de um sonho não deverá ser encarado como um sinal de fraqueza, muito pelo contrário. Desistir de um sonho poderá revelar a maturidade e racionalidade necessárias para entender que, em dado momento, o impossível poderá ser algo factual.


sábado, 20 de outubro de 2012

A tempestade que vem a caminho

Sónia Guerreiro
Se, um dia, o vosso amor vencer, então tudo terá valido a pena. Um amor que perpetuará incólume pelo espaço temporal do imenso universo, com uma energia sobrenatural e apenas comparável à do nascimento de uma estrela.

A vida terá sido apenas uma, a vossa, numa união enigmática para muitos.

Aqueles que não o procurarem, não terão sido mais que uns indigentes colecionadores de troféus, cujas lágrimas, um dia, irão cair na direção do céu, como uma chuva que nasce de dentro de nós para apagar um fogo dissimulado que brota das tormentosas nuvens que habitam no firmamento.

Crescemos a ouvir que tudo tem o seu tempo. Esperemos que a tempestade que vem a caminho, com tanto ainda por sonhar e viver, não nos atinja no tempo errado.


terça-feira, 16 de outubro de 2012

O reencontro

Sónia Guerreiro
Ela acordou com um espreguiçar de braços muito seu, bocejando e enrugando o nariz com um jeito suave. O sorriso largo, o cabelo sedoso, o olhar hipnotizante.

Os seus pés, perfeitos, hesitaram no momento de tocar no chão frio que os granjeava. É certo que nunca entenderemos o porquê de tal hesitação, tão certo como que, no instante seguinte, a Princesa da nossa história voltou a adormecer e a entrar no extraordinário mundo dos sonhos.

E foi a sonhar que tudo se tornou claro e evidente. Não podia esperar nem mais um segundo. O seu subconsciente encarregou-se de criar um cenário verdadeiramente encantador, repleto de magia e beleza em tudo aquilo que nele habitava. Perante tal cenário, a Princesa dispôs-se a procurar aquilo que havia perdido, há muito tempo, num sonho antigo que se havia transformado em pesadelo.

E eis que a tarefa não se revelou complacente. Encontrar um coração despedaçado, num sonho que muitas vezes não é o nosso, pode revelar-se mais exigente que descobrir a saída de um labirinto que não a tem.

O sonho durou dias e noites, até que, por fim, a Princesa reencontrou o seu coração. Perdido, confuso, mas feliz, era assim que ele se sentia. Simplesmente feliz, pelo reencontro.

Para encontrarmos o caminho da felicidade, não há outra forma senão andarmos de mãos dadas com o nosso coração.


domingo, 14 de outubro de 2012

Aqueles de quem gostamos

Sónia Guerreiro
Quando ela partiu, era Inverno. Fazia sentir-se um nevoeiro denso, incrivelmente frio, que caminhava por entre nós com um semblante abatido e carregado. Estranhamente, não corria uma aragem, num dia marcado pelo fim de muitos paradigmas.

Ela não escolheu partir. Ele não escolheu perdê-la. Dentro de si, porém, ela continua a existir, da mesma forma como sempre existiu. Com o mesmo sorriso, feliz, com o mesmo olhar, doce, com o mesmo amor que tinha por ele, eterno.

Acusam o homem de ser avesso à mudança, de lhe resistir obstinadamente. A cruel verdade é que, quando alguém parte, o mundo continua o mesmo (e o homem também). O sol continua a nascer todos os dias, umas vezes com mais energia, outras nem tanto. A natureza segue o seu caminho programado, surpreendendo apenas quem desconhece a sua magnitude. A lua continua a ser dona da sua vontade, surgindo e desaparecendo quando mais lhe convém.

A razão dirá ao coração para chorar, pois só assim fará sentido aceitar o adeus. Mas ele apenas irá chorar até ao momento em que perceber que ela não partiu, que não a perdeu.

Aqueles de quem gostamos nunca deixarão de estar connosco. Existem em nós, por um tempo eterno, bem junto do nosso coração.


quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Vaticínios

Sónia Guerreiro
Parar. Pensar. Refletir.

Naquilo que deixámos de fazer, mas que nos tornava superiores. Naquilo que fazemos, apenas porque sim. Naquilo que deixamos por fazer, porque a inércia é mais forte que nós.

Não caminhamos para novos, qual verdade de La Palice.

O coração, quérulo, respira fundo, ao mesmo tempo que pede um novo fôlego.

Os segundos parecem ora passar devagar, ora passar depressa, demasiado depressa. Curiosamente, alguém me disse que passam sempre com a mesma cadência, como as gotas que caiem de uma torneira mal fechada. Não sei se hei de acreditar, pois ainda agora pareceu-me ver o tempo parar.

E, com o tempo parado, consigo ver o futuro. E, deixa que te conte, é deveras estranho veres-te num tempo que ainda não passou, que ainda está por vir, a rasgar o racional que existe em ti e que te ordena a acordar, pois de um sonho não poderá passar.

Um sonho viciador, como uma droga que nos corre nas veias e que nos arrebate o espírito, que nos impele a respirar fundo com o coração, a agarrar no tempo com as duas mãos, mãos sofridas pelo áspero labor do quotidiano, e a mandá-lo para trás das costas.

O futuro? Nunca o verás através de uma bola de cristal. O futuro está diante de ti, a cada segundo que passa, ora devagar, ora depressa... demasiado depressa.