sexta-feira, 9 de março de 2012

Um punhado de terra

Ao agarrar num punhado de terra, ela tomou-lhe, ali mesmo, o peso da dor sob os seus pés.

Descalços, caminhavam sobre um solo carregado de solidão, uma terra taciturna e pesarosa por não lhe ter sido dada a oportunidade de dar vida à vida.

De todos os locais inóspitos que havia percorrido, este era, indubitavelmente, o seu local de eleição. As árvores, despidas e deslutradas, vergavam-se à sua passagem. Por mais violento que pudesse parecer, este era  verdadeiramente  um cenário imperdível.

Os seus dedos, imaculados e suaves, acariciavam levemente as flores, que se esticavam para sentir o seu terno aroma feminino.

"Quem sou eu?", pergunta a si mesma.

Não sei quem és, juro que não sei. Apenas te vislumbro ao longe, bem longe. Não sei se estás no céu, ou se, porventura, este recôndito lugar é o inferno.

O sol escondeu-se. "Miserável, não fujas", digo para comigo. Creio que me ouviste o pensamento, porquanto tentas fitar o meu olhar. 

Não sou capaz de te enfrentar. Baixo-me, e agarro num punhado de terra. Posso assegurar-te que sinto a tua dor. 

O teu coração arrisca uma súbita paragem. Cais, de joelhos, na terra humedecida pelas lágrimas que não consegues conter. Prostrada, levas as tuas mãos à cara e choras convulsivamente, choras sem parar por um tempo quase eterno.

O sentimento de impotência é algo inimaginavelmente cruel. Tento, a todo o custo, corrigir esta falta de forças que nos atinge. Sinto a terra a consumir-nos o espírito.

"Quem sou eu?", pergunto a mim mesmo, agora já bem próximo de ti. 

Seguras-me na mão, por fim. 

"Vamos embora. O inferno não foi feito para nós.".