quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
A carta
A carta acabara de cair aos seus pés, transportada pelo vento. Quando terminou de a ler, sentiu-se perdida. As palavras registadas naquele pequeno pedaço de papel tiveram o condão de lhe imprimir um sentimento de tristeza como nunca antes tinha vivido. A única coisa que se viu capaz de fazer naquele momento foi fechar os olhos, desejando que tudo aquilo não passasse de um sonho mau.
De olhos fechados, e com o vento a soprar sorrateiramente, a leveza que em seguida sentiu deixou-a perplexa. Podia jurar que o seu espírito se desprendia do seu corpo, algo que lhe começava a permitir esquecer a melancolia que a atingira momentos antes.
A perplexidade inicial foi prontamente substituída por um medo imenso, ao mesmo tempo que, instintivamente, abria os olhos e se deparava com uma nova realidade, uma espécie de versão acelerada da realidade que conhecemos. Pôde ver-se a si, estendida naquele chão de erva rasa e num estado de enorme desgosto, com os seus cabelos loiros resplandecendo e os seus olhos chorando rios de lágrimas.
Pois naquela extraordinária realidade, a vida apresentava-se sôfrega. Foi num ápice que as suas lágrimas, entranhadas por terra adentro, deram origem a uma lindíssima flor. No instante seguinte, uma rajada de vento inusitada arrancou do solo, com violência, a flor, transportando-a, pelo ar, até aos meus pés. Espantado, agacho-me e apanho-a, sentindo um súbito estremecimento.
Tiro do bolso do casaco uma folha de papel e uma caneta, que rapidamente dão origem à carta que a fez chorar.
Pergunto: em que realidade vivemos nós?
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sencillamente magnífico ....
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