segunda-feira, 25 de abril de 2011

Compromisso


Compromisso. Não é mais que uma “promessa mútua”, como o dicionário tão bem define. Assumindo-se um compromisso, assume-se uma obrigação com alguém, com algum objectivo ou propósito. Um compromisso, que se poderá definir, igualmente, como uma declaração de princípios, deriva do latim compromissum, referindo-se à palavra que se honra.
Podendo, o compromisso, ser considerado uma responsabilidade adquirida, a partir do momento em que não cumpro a minha palavra, serei, inegavelmente, um irresponsável. Mas não apenas um irresponsável. Coloquemos, pois, no prato da balança, alguns dos conceitos já referidos: promessa, obrigação, princípios, palavra de honra, responsabilidade. Será, então, um fardo difícil de carregar? Provavelmente qual dúvida hipócrita , não estará ao alcance de todos. E isso talvez explique o facto de serem tantos aqueles que não são capazes de assumir e honrar os seus compromissos.
Creio que estará ao alcance de qualquer um a compreensão da essencial coexistência entre compromisso e dificuldade. Ou terá vindo alguém, em algum momento das nossas vidas, segredar-nos ao ouvido o quão é fácil assumir e cumprir aquilo com que nos comprometemos? Não sejamos ingénuos (não o somos).
Antes de assumirmos um compromisso com alguém, tenhamos consciência de que o primeiro compromisso de todos será sempre com o nosso eu interior. Nesse sentido, estarei certo de que o nosso eu interior não ficará nada agradado com a nossa (eventual) irresponsabilidade e falta de princípios.
Por fim, gostaria apenas de referir que esta reflexão não personalizada não pretende atingir ninguém em particular. Antes de a concretizar em palavras, assumi esse compromisso...


domingo, 17 de abril de 2011

A tua flor


A flor que te quis oferecer, semeei-a no teu jardim, exatamente no seu centro, longe da atenção dos pássaros que por ali esvoaçavam todas as manhãs e de todas as restantes flores protegidas pelos respetivos canteiros.


A flor que te quis oferecer, crescia com o mesmo entusiasmo que a minha paixão crescia por ti, verdadeiramente inebriada. Era uma flor que ganhava vida com os primeiros raios de sol matutinos, que ganhava o seu esplendor máximo quando o astro rei atingia o seu ponto mais alto no vasto céu azul.

Quando caía a noite, a flor fechava-se em copas no seu mundo, não deixando, no entanto, de perder um pouco que fosse da sua doce beleza.

Naquele pedaço de terra, até as ervas daninhas apresentavam um sentimento de especial devoção pelo ser mais belo do jardim, não se atrevendo, nunca, a chegar-lhe perto.

No dia em que a flor se tornou adulta, não fui capaz de a arrancar do solo. Eu não tinha esse direito.

Contudo, havia chegado um outro momento.

Trouxe-te até mim, até junto da flor que agora mesmo te ofereço.

Pois foi sob o olhar atento da tua flor, que por ti declarei o meu amor.


sábado, 9 de abril de 2011

O sítio aonde nos esperam


Laconicamente falando, e observando o cenário em seu redor, era com um sentimento de profundo asco que a maior parte das pessoas olhava para ela. O desgosto pelo bem alheio nunca terá um registo nobre. Ainda assim, permitam-me que vos diga: a inveja desmedida não poderá ser, alguma vez, tolerada.
Porém, por muito que nos custe acreditar, era a isso mesmo que se assistia. Se aos pares se cruzavam com ela, daí a nada, e já de costas voltadas, haveria lugar a uma arenga desdenhosa. Pois bem, a vida é feita de constantes julgamentos, quer estes ocorram nos seus lugares adequados, ou não.
Sem querer dar azo a divagações vãs, foquemo-nos apenas nos factos. Afinal, talvez não fosse o seu estado de graça o causador de tanto ódio e desdém, quantas vezes mal dissimulados. Havia um facto inegável e, igualmente, incontornável. Ela era deslumbrantemente bela. Pois se em terra de cegos, quem tem um olho é rei, então em terra de feios, quem é belo é crucificado.
Estaremos a ser severos? Não creio. A quantas iniquidades poderíamos assistir no seio de um local tão pequeno, onde a impunidade reina a seu bel-prazer?

Assombrosamente bela. Era-o, de facto. E estava apaixonada. Por quem? Não sabemos, mas talvez as boas sensações que o seu coração transmitia, fossem também responsáveis pela utópica perfeição das linhas do seu corpo e da brandura do seu espírito.
No entanto, e ainda que não fosse o seu desejo, a crescente caterva de escarnecedores foi aumentando o protagonismo da jovem musa que, um dia, não conseguindo resistir à constante pressão da sua beleza, se viu obrigada a fugir do local que a viu nascer.
Terá fugido para onde? E será que alguém aguardava a sua chegada? Pois será esse o nosso mais profundo desejo, que alguém a esperasse ansiosamente. Porquê? Porque podemos estar certos de uma coisa: sempre chegamos ao sítio aonde nos esperam.