sábado, 26 de fevereiro de 2011
Canto do Mar
O ponto de encontro não ficava longe do centro da cidade. Era um local recatado, muito embora fizesse fronteita com o imenso mar que banhava toda a costa leste do país. Fazia frio, apesar da baixa temperatura não ser suficiente para provocar o desconforto físico próprio daquela altura do ano.
O Outono caminhava para os seus últimos dias, com o Sol a esforçar-se para manter acesa a sua chama.
O relógio marcava as três horas da tarde. Nenhum dos dois chegou atrasado ao local combinado, situação que se verificara devido à enorme ansiedade que cada um transportava dentro de si. Este encontro havia sido motivado por algo deveras insólito. Há exactamente um dia atrás, precisamente no mesmo segundo, do mesmo minuto, da mesma hora, cada um deles enviou ao outro a seguinte mensagem: “Tenho um segredo para te contar”.
O momento revestia-se de tamanha perplexidade, que no instante imediato decidiram encontrar-se no dia seguinte. Cada um deles, talvez por mútua transmissão de pensamentos, sentiu o ímpeto de escrever o seu segredo num pequeno pedaço de papel, o qual foi posteriormente dobrado em quatro partes iguais.
Voltando ao ponto de encontro, os dois sentaram-se lado a lado, virados para o mar e contemplando a serena rebentação das ondas. Nenhum deles o sabe, mas os seus corações, neste preciso momento, batem exactamente ao mesmo ritmo, compassadamente e com vigor.
Ao longe, ela consegue escutar o canto do mar. Está certa que o consegue; só poderá ser o canto do mar. Quanto tempo esperaram por este momento? O tempo de uma vida? Não sabemos. Conhecem-se há pouco mais de um ano, o tempo suficiente para se verem dissipadas quaisquer dúvidas.
Ele antecipa-se, e retira do seu bolso o segredo que tem para lhe revelar. Ela segue-lhe os movimentos, fazendo a mesma coisa.
Trocam de segredos, com dois sorrisos bem rasgados. Se o destino realmente existe, então este destino estaria de facto traçado.
Os dois pedaços de papel contêm a mesma palavra. Um “Amo-te” escrito com paixão, com a mesma paixão que os acompanhará em todos os passos das suas vidas.
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
O Principezinho
Foi a sonhar que, um dia, conheceu o Principezinho. O sonho era de tal forma realista, que a primeira coisa que os seus lábios foram capazes de pronunciar foi:
– Principezinho, que fazes tu aqui...?
O cenário, contrariamente ao que seria de esperar, não se apresentava na forma de deserto, mas sim na de um aprazível e imensurável campo repleto das mais variadas e belas flores.
– Procuro a minha rosa – respondeu o Principezinho –, mas as flores aqui são tantas... ajudas-me a encontrá-la?
– Claro que sim – respondeu ela, agarrando na sua pequenina e delicada mão.
O sol estava pintado de um laranja que o nosso parco vocabulário nunca conseguirá descrever. Quanto ao céu, este estava apaixonantemente admirável, refulgindo essa mesma intensidade em todas as flores do vasto campo. À passagem dos dois passeantes, estas pareciam sorrir.
– Como te chamas? – perguntou o Principezinho.
– Eu... eu... eu não me lembro do meu nome! – exclamou ela, como que desconcertada com a súbita amnésia.
– Deixa, não te preocupes... tens ar de sonhadora, chamar-te-ei Sonhadora. Importas-te?
– Não, claro que não me importo, Principezinho – ao mesmo tempo que fazia um esforço sobre-humano para se recordar do seu próprio nome.
– Sonhadora, nós não encontramos a minha rosa...
– Não fiques triste, Principezinho. Havemos de encontrá-la, mas se isso não acontecer...
– Se isso não acontecer...? – interrompeu-a o Principezinho, com os seus intensos olhos azuis já lavados em lágrimas – Tenho que encontrar a minha rosa, doutra forma nunca mais serei feliz.
– Olha ao teu redor, já viste quantas flores os teus olhos conseguem alcançar? Estou certa de que iremos encontrar uma rosa tão linda como a tua – acrescentou a Sonhadora, tentando reconfortá-lo.
– Não, não... – respondeu o Principezinho, com a voz trémula e um semblante carregado – Tu és feliz, Sonhadora?
Ela não esperava esta pergunta.
– Sou muito feliz, Principezinho – respondeu ela, de uma forma notoriamente evasiva – Mas porquê? – perguntou, ansiosa.
– Tu não és feliz, Sonhadora. Os teus olhos não mentem... não irradiam paixão. Olha o céu.
– Olho o céu? O que tem o céu?
– Não vês? O céu está apaixonado. Repara na sua cor! – exclamou o Principezinho – Sonhadora, Sonhadora!
– O que foi, Principezinho? – perguntou, assustada.
– Encontrei a minha rosa! – gritou ele, contemplando a sua flor de um modo singularmente apaixonado – Agora é a tua vez, Sonhadora... acorda!
Ela acorda e sorri. A vida está à sua espera!
Etiquetas:
Amor
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