sexta-feira, 5 de junho de 2015

Este não é um texto sobre caracóis

Na sua essência, o Homem é um ser egoísta e intolerante. Ou talvez isso seja apenas fruto da sua racionalidade suprema, e nada tenha que ver com essências ou semelhantes patacoadas.

Mais uma vez, e vivêssemos nós na Idade Média, certamente que teríamos assistido ao apedrejamento e, quiçá, a um ou outro atear de fogo, dirigidos a umas quantas bruxas defensoras dos "direitos dos caracóis". Como o tempo da inquisição já lá vai, aproveitemos, então, as redes sociais para canalizar todas as nossas energias, ódios e frustrações no escárnio e mal dizer.

A minha opinião sobre o assunto? Sim, têm razão, certamente que haverá um bilião de outros assuntos muito mais carecentes de dedicação por parte de TODOS nós. Mas, e depois? O que é ridículo aos nossos olhos, seguramente não o será aos olhos de todos os demais. Onde querem, afinal, chegar? Gostaria de ter a capacidade para entender, mas afigura-se-me insuficiente. Pelos vistos, a rebelião de insurgentes é toda ela defensora das mais nobres causas.

Se é verdade que o tema nos oferece material suficiente para o mais variado tipo de piadas? Sim, claro que sim, e ainda bem que assim é. Vivemos num estado de direito e, como diz o provérbio, rir é o melhor remédio.

Mas, ainda assim, falta-nos coragem. Coragem para aceitar as diferenças, coragem para aceitar a nossa intrínseca mediocridade, coragem para defender o que quer que seja.

Que soberba a nossa considerarmo-nos melhores e mais capazes do que aqueles que defendem aquilo em que acreditam.

P.S.: não, não sou vegetariano, mas cedo a minha dose de caracóis.



domingo, 24 de maio de 2015

Com sentimento, sem razão.

Sónia Guerreiro
No teu coração, o sol põe-se tarde, quando a brisa que nos acalenta o espírito ainda sopra com uma fragrância primaveril. O dia nasce veraneante, sempre, nos teus grandes e bonitos olhos. À tua passagem, quando o sol atinge o seu momento mais glorioso, caduca-se o que efémero já o era. Mas o ciclo não termina aqui, pois enquanto danças sob a chuva invernosa que nunca se esquece de nos lembrar o quão maravilhoso é o nosso mundo, enquanto os teus pés descalços acariciam a terra húmida que nos dá vida, nascem as flores que nos animam a acreditar que, neste nosso cantinho, tudo é possível. E podemos, nesse momento, meditar sobre os desígnios que aqui nos trazem, com sentimento, sem razão, de olhar profundo no horizonte das nossas almas, questionando o que deve ser questionado, chorando e rindo até que nos falte o ar.


segunda-feira, 13 de abril de 2015

Sei que és tu.

Sónia Guerreiro
Sei que és tu. Noutro tempo, noutra vida, talvez noutro mundo. 

Sei que me espreitas a todo o instante, que caminhas a meu lado quando cruzo a estrada.

Choras comigo quando o sol nasce sem vontade, ris quando a música chega ao nosso coração.

Tu és um mundo em si, um mundo com pétalas de rosa que perfumam a beira-mar numa tarde de verão, que mesclam o aroma do mar com o nosso amor mais genuíno, que embalam os nossos espíritos ao som da melodia que nos chega vinda do longínquo horizonte.

A vida é penosamente efémera. Quando um dia deixarmos de ser aquilo que somos, apenas restará o que tivermos conseguido imortalizar de forma espontânea.

Que o nosso amor seja uma delas.


terça-feira, 13 de janeiro de 2015

O adeus ao dia de hoje

Somos, enquanto vivemos. Depressa, nem pó seremos.

A mágoa não te cabe por ser infinita. Chorar, sim, mas quem nos diz que valerá a pena?

A revolta rasga a terra que pisas, surge das profundezas com uma inquietude desconcertante, entranha-se em ti sem pejo ou hesitação.

Hoje, quando és tudo e apenas aquilo que está por vir, buscas recuperar num só momento aquilo que julgas ter ficado para trás. Doce ilusão de quem procura reparar o passado.

Multiplica, no amanhã, tudo o que de bom há em ti.

Sente, sente sempre antes de pensares. E abraça-me, se me quiseres abraçar.

Este é apenas o adeus ao dia de hoje.