O frio que se fazia sentir dentro de nós rasgava-nos o espírito como uma noite de tempestade em alto mar.
Espíritos desfeitos, derrotados por uma desmedida falta de esperança, de alento, de fôlego.
Os sorrisos, esses, há muito que deixaram de existir, tendo ficado apenas, no seu lugar, umas quantas pregas na pele dos nossos rostos, representando uma ténue lembrança daquilo que um dia foram.
As estrelas sempre lá estiveram, indicando-nos o caminho a seguir. Presos a uma tenacidade falaciosa, o caminho que seguimos foi o mais duro, o mais penoso, o mais acerbado, como se tivéssemos optado por percorrer o mundo de mãos dadas sobre um caminho em brasas.
Hoje, pouco ou nada resta de nós. Corpos vagabundos, hospedeiros de espíritos errantes, reduzidos a uma insignificância miserável, qual universo vociferante a explodir dentro de nós.
Se outrora fomos um só, hoje não somos mais que mil pedaços espalhados ao vento, num vazio que tudo consome e em que nada existe.