quarta-feira, 6 de outubro de 2010

O labirinto


Ela deteve-se diante da entrada do labirinto. O acesso não apresentava mais que dois metros de largura, com o labirinto a estender-se para cada um dos lados até a vista não ter fim. Sou levado a crer que o sol já se havia posto, dada a pouca luminosidade que chegava ao local. Mas, quem sabe, talvez o dia estivesse a nascer.

Ao longe, ouvia-se uma turba ensurdecedora, cuja distância não permitia discernir o som que ecoava no céu. Mais tarde, ela haveria de recordar este momento com a mesma perplexidade com que o vivenciou.

Sem perceber o que a levava a entrar no labirinto, ela não hesitou ao transpor a cabida. As paredes do labirinto eram constituídas por arbustos cerrados desde o solo, com cerca de três metros de altura. Num lugar como este, em que os caminhos estão dispostos de modo a dificultar a saída, seria difícil imaginar alguém deambulando vagarosamente ao sabor do vento. No entanto, era mesmo isso a que se assistia.

Momentos havia em que o silêncio era fantasmagórico, momentos em que, rodeada pela vegetação e sem um rumo definido, ela se sentia estranhamente perseguida. Esses momentos eram permanentemente interrompidos pelo canto dos corvos que sobrevoavam o labirinto, cujas plumagens negras transmitiam ao local uma insígnia ainda mais obscura.

Se imaginar que foram várias as horas despendidas a vaguear naquele dédalo quase infinito, não estarei longe da verdade. A turba, entretanto, não mais se ouviu, e, enquanto percorria os estreitos caminhos que se lhe apresentavam, a sua mente projetava um castelo no cimo de uma montanha. Mais tarde, lembrar-se-ia deste pensamento com um enorme sentimento de incerteza. Estaria a sonhar?

Quando o cansaço já se apoderava do seu corpo, e os seus longos cabelos se mostravam eletrizantes perante a chegada de uma autêntica armada de nuvens intempestivas, eis senão quando a saída surge no seu horizonte. Uma vez alcançada, e para sua incredulidade, um imponente castelo emerge do cimo da montanha mais próxima, aquela situada de frente para o labirinto.

Sem qualquer indecisão dissimulada, ela procura – ofegante – chegar à entrada da majestosa fortaleza. O percurso até lá foi feito por entre as árvores de uma floresta quase mágica, cujo brilho dos seus elementos seduzia a vista de quem se decidisse a atravessá-la. Em pouco mais de quinze minutos, esse caminho já se encontrava percorrido.

Agora, uma vez tão próxima da grandiosa porta de madeira do castelo, ela é atingida por um sentimento de inusitada curiosidade. Esvoaçando horizontalmente, os seus longos cabelos dão vida ao momento, fruto da graciosidade do vento inspirador que se sentia.

Ao transpor a porta, que se apresentava entreaberta, surge – como único elemento – uma escadaria de pedra mármore no centro de um amplo salão. Sente-se, de imediato, impelida a tirar as sabrinas que traz calçadas. Sentindo o chão frio sob a planta dos seus pés descalços, opta por flutuar sobre a centena de degraus que tem pela frente.

Atingido o topo da escadaria, eis que surge, diante de si, algo com o qual já havia sonhado. Sim, estava certa disso.

O pequeno baú de madeira, que não teria mais que um palmo de comprimento, apresentava-se com um aspeto algo desgastado. A meio do artefacto, saltava à vista uma pequena tranca composta por uma diminuta barra. Perante tal pormenor, ela depressa se deu conta de que o interior do baú estaria pronto a ser revelado.

Uma vez descoberto o objeto que guardava, a sua vida mudou para sempre. Tinha, nas suas mãos, a chave do meu coração...



Fotografia de João Miranda.